O nome de Hércules, tornado de uma das mais admiráveis divindades do mito pagão, representada pelo herói fortíssimo e generoso, vencedor da Hidra e do Leão, do Centauro e do Javali, nunca apareceu entre os santos do calendário cristão.
No entanto, aparece por quatro vezes o nome de Herculano, e aparece também a 4 de julho o nome de Heráclo, análogo ao nome grego do semideus. A isso acrescenta-se o derivado “Heráclio”, tirado de sete santos, quase todos mártires, e também esses fortíssimos, não nos membros, mas na fé.
Dos quatro Herculanos, um, festejado a 12 de agosto, foi bispo de Bréscia, no século VI. Não temos notícias seguras sobre a sua história, como também não se tem sobre santo Herculano festeja-do a 5 de setembro no Porto, e que apareceu como mártir, sob Marco Aurélio e sob Galo. Mais clara, ao contrário, é a figura de santo Herculano festejado a 7 de novembro, monge e depois bispo de Perúgia. Sua obra e sua vida foram cheias de tribulações e provações por causa das grandes invasões bárbaras do século VI, e especialmente a invasão devastadora do godo Tótila. Sob as muralhas da cidade úmbria, Tótila teria encarregado um seu lugar-tenente de capturar o bispo católico, rasgando-lhe uma grande tira de pele, da cabeça até o calcanhar. Mesmo sendo bárbaro, o lugar-tenente não teve coragem no coração para fazer tal operação em um vivente. Por isso fez decapitar o bispo Herculano, cortando depois uma longa tira de pele do cadáver, que foi mostrar como reprimenda aos peruginos.
O santo Herculano, que hoje é comemorado, foi mártir, alguns séculos antes do bispo perugino. No Martirológio, a sua figura constitui, mais que qualquer outra, uma interrogação, pela falta de datas seguras e pela incerteza suscitada nos estudiosos da história de seu martírio.
Ele teria sido militar romano, o qual, durante o império do “Pio” Antonino, fora encarregado de escoltar ao martírio o bispo santo Alexandre. Também este último é personagem problemática; em seu martírio conta-se como, antes de ser decapitado, sofreu repetidas torturas, que não só não o fizeram retroceder na fé, mas tampouco conseguiram esfolá-lo. Com esses prodígios, o soldado compreendeu que o Deus dos cristãos era mais poderoso que o do imperador, e que a fidelidade dos confessores de Jesus era mais heroica que a obediência militar. Por isso, também ele declarou a própria fé, e tanto ele como o seu companheiro sofreram numerosos tormentos, antes de ter a cabeça mutilada, ou, segundo outra tradição, antes de serem jogados em um lago, com grande pedra atada ao pescoço.
Extraído do livro:
Um santo para cada dia, de Mario Sgarbossa e Luigi Giovannini.