A ética no uso e desenvolvimento da inteligência artificial | Paulus Editora

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25/07/2024

A ética no uso e desenvolvimento da inteligência artificial

Por Dom Edson Oriolo

Atualmente, podemos perceber como a inteligência artificial está impactando os diversos setores no dia a dia das pessoas. No mercado das ações, ela é usada para analisar as tendências do mercado e realizar operações. A inteligência artificial produz artigos, homilias, palestras, cria arte, dirige carros, escreve e corrige editoriais de notícias e recomenda medicamentos. Ela vem proliferando decisões automatizadas em várias esferas da sociedade, incluindo diagnósticos médicos e até mesmo processos jurídicos.

Assim sendo, a inteligência artificial já faz parte da vida das pessoas. A todo o momento estamos em contato com processos inteligentes para sobreviver nesta quarta revolução industrial com tantas tecnologias. Mas é bom lembrar que o historiador israelense Yuval Harari, em seu livro Homo Deus: uma breve história do amanhã, impõe um limite ao progresso da inteligência artificial, quando afirma que “as máquinas inteligentes, ao não serem dotadas de consciência, nunca vão competir com a inteligência humana”.

No entanto, a inteligência artificial, ao imitar ações, tomar decisões e vislumbrar horizontes como a inteligência humana, que possui consciência, vontade, liberdade e razão, não assume responsabilidade por seus atos. Ela não trabalha com consciência. Não pode ser responsabilizada pelas consequências dos seus atos. Ela apenas atribui aos humanos a responsabilidade sobre as decisões automatizadas, ou meras previsões daquilo que foi solicitado. É um enorme desafio para os que carecem de uma consciência crítica e pretendem fazer história nesse mundo com tantos avanços científicos e tecnológicos.

O prelado Dom Odilo Pedro Scherer, Cardeal-Arcebispo de São Paulo, no artigo “Inteligência Artificial e Paz”, em 13 de janeiro de 2024, destacou com grande discernimento e profundidade intelectual que “a dimensão ética está presente em toda a atividade humana, ligada intimamente às decisões e intenções de quem produz e de quem aplica e usa os conhecimentos conquistados”, acrescentando não ser “diferente com as diferentes formas e usos da inteligência artificial, capaz de imitar, de reproduzir e até criar ações típicas do homem”.

Com os avanços da inteligência artificial as questões éticas entram na pauta. O tema da ética permeia a sociedade humana, mas sempre mostrando como o humano é dotado da capacidade de pensar criticamente sobre valores morais e dirigir ações em torno de tais valores. Assim, o prelado apresenta em suas sábias palavras três pontos de capital importância sobre o tema da ética, no avanço recente das tecnologias de inteligência artificial.

a) A ética é um componente essencial em todas as atividades humanas. Com o avanço recente das tecnologias de inteligência artificial, as questões éticas estão em destaque, influenciando diretamente as decisões, intenções e ações de quem produz e aplica conhecimentos.

b) A relação ética e inteligência artificial. Temos ciência das inúmeras áreas do conhecimento e da tecnologia que sempre estão sujeitas a considerações e implicações éticas. A inteligência artificial também deve ser desenvolvida e utilizada com as implicações éticas.

c) Responsabilidade ética pelas potencialidades da inteligência artificial. É sabido que a inteligência artificial tem a capacidade de imitar, reproduzir e até criar ações humanas, o que torna essencial a responsabilidade ética em seu desenvolvimento e aplicação para garantir que suas utilizações sejam benéficas e justas.

A inteligência artificial não possui uma ética própria. Cabe a nós desenvolver um conjunto de melhores práticas que possam ser replicadas em diversas configurações. Deve haver transparência nas decisões tomadas por sistemas de inteligência artificial, garantindo que os processos sejam compreensíveis por especialistas e usuários. Também é preciso criar comitês que possam ter representantes de todos os setores da sociedade com especialistas em ética e recursos humanos para orientar o desenvolvimento e a implementação de políticas de inteligência artificial.

É essencial buscar um equilíbrio entre os benefícios e os avanços da inteligência artificial e as questões éticas envolvidas. O termo “artificial” revela os limites dessa inteligência, não que seja um mal, mas por depender de mecanismos construídos pelo ser humano e controlados por alguns, segundo interesses econômicos. O aspecto de desenvolvimento humano não está em primeiro lugar. A dependência excessiva da inteligência artificial pode levar à redução da criatividade, inventividade, capacidade crítica, e até mesmo da inteligência em si, devido ao desuso de estruturas cerebrais fundamentais à condição humana como hipocampo, córtex e sistema límbico.

Finalmente, a inteligência humana deve atuar e ser parceira da inteligência artificial na definição de regras morais e éticas, oferecendo suporte regulatório e sistemas que permitam à sociedade usufruir dessas tecnologias de forma a promover o crescimento e a dignidade humana. Ela não faz juízo de valores nem estabelece hierarquia do mais e do menos importante, a não ser que isso já conste nos dados por ela utilizados. Em última análise, a colaboração entre a inteligência humana e a inteligência artificial deve ser mútua, beneficiando a evolução de ambas.

 

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