PAULUS realiza a primeira edição do Simpósio de Estudos Patrísticos | Paulus Editora

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29/08/2023

PAULUS realiza a primeira edição do Simpósio de Estudos Patrísticos

Por Imprensa

Realizado em São Paulo, evento celebrou a publicação do volume 50 da Coleção Patrística

Com muita alegria e expectativa, a PAULUS Editora, em parceria com o Centro de Estudos Agostinianos e a Faculdade São Bento, realizou neste sábado (26/08), a primeira edição do Simpósio PAULUS  de Estudos Patrísticos no Auditório Padre Tiago Alberione, localizado na Faculdade PAULUS de Comunicação (FAPCOM), no bairro da Vila Mariana, em São Paulo (SP). O evento reuniu professores, estudantes, religiosas, religiosos, leigos e diversos interessados no tema, entre católicos e cristãos de diversas denominações. Na oportunidade, também foi feito o lançamento oficial do 1º livro da obra “A cidade de Deus”, de Santo Agostinho, que marca o volume 50 da coleção “Patrística”. 

Na fala de abertura, Frei Darlei Zanon, ssp, diretor editorial da PAULUS, saudou os presentes e falou sobre a importância do marco da publicação do volume 50 da aclamada coleção. Ele recordou os demais religiosos paulinos que estiveram na direção editorial da instituição e que incentivaram e ofereceram condições para que a coleção “Patrística” chegasse tão longe e a públicos tão diversos. Em seguida, Pe. José Erivaldo Dantas, diretor da FAPCOM, fez a acolhida em nome da instituição.

A cidade de Deus e Santo Agostinho

A primeira conferência do Simpósio teve como tema “A cidade de Deus e Santo Agostinho” e foi proferida pelo Prof. Dr. Luiz Marcos da Silva Filho, pós-doutor em Filosofia pela UFSCar e responsável pela tradução do título em questão. Em sua fala, ele ressaltou que uma das novidades trazida por Santo Agostinho em “A cidade de Deus” é a inflexão das noções de cidade, política e história, em relação ao que genericamente é chamado de “cidade antiga”.

Para o bispo de Hipona, “trata-se de duas grandes sociedades em que toda a humanidade se divide e que atravessam todas as cidades e sociedades materialmente instituídas na história”, explica o palestrante. “A problemática entre contemplação e ação é renovada pela fundamentação de uma vida política moral e religiosamente orientada fora da história e pela fundamentação de uma política autônoma ou divorciada da moral inaugurada pela cidade terrena”, completa Luiz Marcos. 

Para ele, a reflexão sobre a cidade celeste e a cidade terrena inaugura a tradição do pensamento político antigo. Além disso, a reconsideração de Agostinho do fundamento da cidade oferece uma reflexão inaugural sobre a história, historicidade e vida fatídica. Segundo o especialista, Santo Agostinho propõe uma nova política capaz de transformar qualitativamente as relações sociais a partir de uma reforma interna de cada um e da sociedade.

Ao final da conferência, o tradutor deixou algumas pistas sobre a publicação que, para ele, pode ser considerada uma épica em forma de tratado e um tratado com conteúdo épico. “A principal chave de leitura de ‘A cidade de Deus’ que proponho é lê-la como uma das mais sofisticadas metafísica dos costumes e fundamentação da interioridade da sociedade”, sintetiza o tradutor.

Um olhar sobre as questões de gênero

Para abordar sobre as atualidades em Santo Agostinho, o Simpósio contou com a fala da Profª Dra. Cristiane Negreiros Abbud Ayoub, pós-doutoranda na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, participante do Núcleo de Estudos de Gênero Esperança Garcia e da equipe de coordenação da coleção Filosofia Medieval da PAULUS. Em sua conferência, Cristiane abordou, sobretudo, questões ligadas à violência sexual e de gênero em relação às mulheres e a contribuição de Santo Agostinho e da obra “A cidade de Deus” nesta temática.



Em “A cidade de Deus”, o bispo de Hipona aborda o saque de Roma de 410 d.C. “Sob o comando de Alarico, os visigodos, com os quais, havia já alguns anos, os romanos vinham ensaiando negociações diplomáticas para evitar a invasão do Império, assediam e saqueiam a urbe de Roma, a ‘cidade eterna’”, explica a introdução da obra. 

De acordo com Cristiane Negreiros, Agostinho enfrentava uma pauta prática, de uma situação ocorrida e debatida em seu tempo. O “exemplum de Lucrécia” abordado na obra critica os padrões de pudicícia difundidos em Roma segundo o qual, ao ser estuprada, uma mulher perdia sua pureza e, por isso, deveria tirar sua vida. Isto porque o estupro se configurava não como um ataque apenas às mulheres violadas, mas à sociedade a qual pertenciam, por isso, neste caso, representava a subjugação violenta de toda a Roma. Em “A cidade de Deus”, Agostinho reinterpreta a história de Lucrécia, defendendo-a como mulher virtuosa, que não escolheu ser estuprada e tampouco consentiu a violência e, ao mesmo tempo, acusa-a pelo homicídio de uma mulher inocente, pois motivada pelo apreço social, retira sua vida.

“Espero que minha fala traga um pouco mais de conforto para falarmos sobre esses temas que são tão incômodos. Às vezes, falar sobre alguém que está distante é mais fácil para abordar o assunto”, manifestou a especialista. Segundo ela, é perceptível que este tema ainda não tem o devido destaque na academia e, para ela, a ausência de estudos na área pode ser lido como um dado de pesquisa, pois expressam o silêncio das vítimas e dos abusadores. “Desejo que tenhamos a coragem de fazer a Filosofia de outro modo, trazendo questões pertinentes para a sociedade hoje e perguntar como esses grandes pensadores, filósofos e teólogos reagiram a isso e como, de alguma forma, eles podem iluminar e transformar a nossa maneira de pensar”, concluiu Cristiane.


Ao final das conferências, os participantes se dividiram em quatro grupos para participar dos workshops, que abordaram os temas: “A Eclesiologia em Cidade de Deus”, com Pe. Dr. Rodrigo Pires Vilela da Silva; “Cidade de Deus – itinerário de tradução”, com Prof. Dr. Luiz Marcos da Silva Filho; “Cidade de Deus – aspectos históricos”, com Prof. Dr. Heres Drian de Oliveira Freitas, assessor editorial na PAULUS e coordenador da coleção Patrística; “Cidade de Deus – sociedade e política”, com Prof. Frei Mario Sérgio Manosso Rocha.

Para Heres Drian de Oliveira Freitas, a resposta positiva ao evento impressionou os organizadores e conferencistas. Além do grande número de pessoas interessadas na temática, outro aspecto destacado pelo assessor foi a diversidade. “O fato de termos participantes também de outras confissões religiosas demonstra o alcance desta coleção”, salienta Heres. 

Sobre o lançamento do volume 1 de “A cidade de Deus”, o assessor destacou o trabalho de tradução da obra. “Este evento é também uma comemoração pelo quinquagésimo volume da coleção, mas também festa do professor Luiz Marcos, um dos responsáveis pela tradução da publicação, porque de fato é um trabalho hercúleo muito bem feito e bastante consistente, com destaque para as notas, esclarecimentos e fundamentação”, elogia Heres Freitas. 

Para acompanhar as conferências, acesse o link: https://bit.ly/3OUvDJY

Confira também o episódio 64 do PAULUSCast, que abordou o lançamento editorial “A cidade de Deus”: