Paróquias inteligentes | Paulus Editora

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Igreja e Sociedade

10/01/2023

Paróquias inteligentes

Por Dom Edson Oriolo

Atualmente, escutamos falar em “Cidades Inteligentes” ou “Smart Cities”. Essas cidades oferecem benefícios, usam a tecnologia da informação para otimizar a infraestrutura e são focadas em melhorar a qualidade de vida dos seus cidadãos. Em Oslo, na Noruega, o gás carbono jogado na natureza está sendo neutralizado pelo incentivo de carros elétricos. Na Holanda, mais precisamente em Amsterdã, ao invés de carros elétricos usam bicicletas para deslocamento de um lugar para outro. A capital dinamarquesa tem uma das políticas urbana mais avançadas do mundo, com destaque para a sustentabilidade. Essas estruturas proporciona melhor qualidade de vida e bem-estar aos cidadãos.

De acordo com o Cities in Motion Index, do IESE Business School na Espanha, são nove os setores que indicam o nível de inteligência de uma cidade: capital humano, coesão social, economia, meio ambiente, governança, planejamento urbano, alcance internacional, tecnologia, mobilidade e transporte.

No entanto, não é só o aspecto tecnológico e autossuficiência que proporcionam melhores qualidades de vida. Cidades inteligentes são frutos da ciência (saber), da tecnologia (fazer), do planejamento estratégico, de inovações e de investimentos bem planejados. Penso que “Smart Cities” têm como fim último a pessoa humana. Isto posto, é possível realizar uma transposição, abraçar o conceito de ‘cidades inteligentes’ e dar-lhe um aspecto eclesial, para que tenhamos as paróquias inteligentes, capazes de dialogar com as necessidades mais urgentes e oferecerem respostas consistentes.

A Igreja deverá inculturar o Evangelho na cidade e interessar-se pelo urbano (cf. SD 255-262). É preciso proporcionar uma espiritualidade que preencha o seu vazio, que permita a vivência de experiências de fé, esperança e caridade na sua vida e na vida da comunidade.

Nestes últimos anos, a instituição paróquia tem passado por grandes transformações no desempenho da missão e da administração. É uma instituição eclesiástica antiga e atual que devemos valorizar. O papa São Paulo VI, no discurso para o clero de Roma, de 24 de junho de 1963 falou: “a antiga e venerada estrutura da paróquia tem uma missão imprescindível e de grande atualidade; iniciar e congregar o povo na normal expressão da vida litúrgica; conservar e reavivar a fé das pessoas de hoje; oferecer-lhes a doutrina Salvadora de Cristo; realizar pelo coração e pela prática da caridade as obras boas e fraternas”.

Assim sendo, uma paróquia inteligente ou smart parish é aquela que, usando dos recursos tecnológicos, cria um ambiente de convivência e de compromisso para possibilitar experiências de fé, de celebrações na fé, de compromisso solidário com os à margem da vida. Não se trata de abarcar o mundo e nem ficar fechado no próprio mundo. Mas, atuar nos próprios tempo e espaço para reforçar nos discípulos a fé e o compromisso, nos catecúmenos cultivar o desejo e a convicção de adesão à fé; nos prosélitos a admiração pelo testemunho da comunidade paroquial. Paróquia inteligente é, sem desprezar os recursos modernos, saber lidar comunitariamente com os diversos níveis de adesão. Saber dar a cada pessoa o amparo da fé, esperança e caridade de que necessita.

No entanto, necessitamos de “paróquias inteligentes” ou smart parishes, isto é, reconquistar o nosso espaço em tempo oportuno e inoportuno na sociedade contemporânea que vem sofrendo pela neopentecostalização e capitalismo de vigilância. Assim sendo, acredito que três elementos serão imprescindíveis para que nossas comunidades eclesiais sejam inteligentes: a missionariedade, a mistagogia e a ministerialidade.

A) Missionariedade:as paróquias necessitam sair da própria comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do evangelho (cf. EG 20). “Sair ao encontro das pessoas, das famílias, das comunidades e dos povos para lhes comunicar e compartilhar o dom do encontro com Cristo”(DAp, 548). Devemos arriscar, investir, acreditar, preencher lacunas e ajudar as pessoas progredirem na experiência cristã de Deus. Paróquias inteligentes significam “recuperar o frescor original do evangelho, despontar novas estradas, métodos criativos (cf. EG 11) para desenvolver “a atividade apostólica do Povo de Deus” (AA 1).

B) Mistagogia:paróquias inteligentes são lugares de encarnar “os mistérios de Deus” manifestado pelos sacramentos. “A finalidade da evangelização é precisamente a de educar na fé de tal maneira que conduza cada cristão a viver – e não a receber de modo passivo e apático – os sacramentos como verdadeiros sacramentos da fé” (EN 47). A única experiência que sustenta e aumenta habitualmente a fé de muitos cristãos é a participação na vida paroquial para cumprir os preceitos e buscar o “mistério” nesta sociedade com tantos falsos valores.

C) Ministerialidade:a Igreja que emerge do Concilio Vaticano II é “toda ministerial”. Todos têm parte ativa na vida e na ação da Igreja (cf. AA 10a). A todos leigos e leigas incumbe a missão de trabalhar para que o plano de salvação atinja sempre mais todos os homens de todos os tempos e de todos os lugares (cf. LG 33 d). A ministerialidade é marca significativa e imprescindível para uma Igreja e agentes de pastorais em “saída”, como nos ensina o Papa Francisco, já que favorece a missão, o levar a boa-nova aos mais diferentes contextos da sociedade, além de garantir a vivência e a participação no interior da comunidade paroquial.

Destarte, acredito que esses três elementos ajudam as paróquias contemporâneas a se transformarem em paróquias inteligentes. Basta vivenciar a missionariedade, a mistagogia e a ministerialidade. Com efeito, a construção de paróquias inteligentes pressupõe a contemplação da inteligência de Jesus que perscrutava o coração do ser humano e para ele oferecia a resposta necessária e adequada a qualquer situação.

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