12 de novembro – 32º DO TEMPO COMUM | Paulus Editora

O Domingo
12 de novembro – 32º DO TEMPO COMUM

VIDA LAMPARINA

A lamparina a querosene iluminava as noites do sertão. Quando o aracati (vento típico do Ceará, referenciado no clássico Iracema, de José de Alencar) soprava, a chama corria o risco de se apagar. Mamãe nos dizia que, se colocássemos a mão no umbigo enquanto segurávamos a lamparina, esta não se apagaria.

Superstição ou não, a lamparina é metáfora da vida. As virgens do Evangelho de hoje, tanto as prudentes quanto as imprudentes, lembram-nos da urgência do viver. Guimarães Rosa dizia que “viver é perigoso”. Ele se referia ao viver mesmo, com tudo o que envolve coragem e medo. O grito no meio da noite, mencionado no Evangelho, tem a ver com as surpresas da vida. A vida sempre nos surpreende. Quando tudo parece estar bem, de repente as placas tectônicas resolvem se mexer ou sobrevêm vendavais, enchentes, desabamentos, doenças, pandemias, acidentes, a morte.

As virgens que não tinham o azeite talvez estivessem tão eufóricas com a ostentação da festa, que se distraíram com o supérfluo e esqueceram o item principal: o sentido. Não é fácil encontrar o sentido. Na verdade, a vida é uma travessia. No começo, no meio e no fim há margens. O sentido consiste em seguir atravessando.

Na travessia, a vida nos pede sensibilidade para o encantamento com as pequenas dádivas do cotidiano. As grandezas nos distraem. No ínfimo, nas filigranas, encontra-se o que realmente toca nosso coração.

Apreciar, por exemplo, o canto de um passarinho, contemplar as estrelas, o nascer e o pôr do sol, admirar as árvores e por elas se interessar, sentir o aroma e o sabor da bebida e da comida preferidas. É maravilhoso olhar para os que estão próximos de nós, apreciar seus olhares, os traços dos rostos, o timbre das vozes. Como é bom estar vivo, sentir nosso peito palpitar e todos os nossos órgãos em movimento!

Sim, a vida é lamparina. A luz que não se apaga é a centelha divina em nós. Colocar a mão no umbigo, para que a chama não se apague, é sentirmo-nos todos irmanados, unidos. É também a expressão da confiança total em Deus, que nos ama e nos faz participar da festa da vida.

Pe. Antonio Iraildo Alves de Brito, ssp


O Domingo

É um periódico que tem a missão de colaborar na animação das comunidades cristãs em seus momentos de celebração eucarística. Ele é composto pelas leituras litúrgicas de cada domingo, uma proposta de oração eucarística, cantos próprios e adequados para cada parte da missa e duas colunas, uma reflete sobre o evangelho do dia e a outra sobre temas relacionados à vida da Igreja.

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