JESUS SE INCLINA PARA ACOLHER
Coisa triste é sofrer exposição por um suposto crime, ser vítima de um regime machista e classista. A mulher está no cadafalso, instalado por homens falsos, de pedras nas mãos e ódio nos olhos. Arvoram-se em peritos das Escrituras. São frios. Ali está a mulher em calafrios, arrastada, humilhada por esses carrascos, que se escondem atrás de códigos e normas. Escribas e fariseus, cheios de Lei e ocos de humanidade. O templo tornou-se um tribunal.
No legalismo não cabe o amor. Todos os olhares se voltam para a mulher. Seu corpo todo é dor. Corpo sobre o qual os homens querem ter o controle total e irrestrito. Acusam-na de um pecado, flagrante adultério. Se ela o praticara, não o fizera só.
A mulher treme. Eles cospem ódio. Ela se sente só e sem amparo. Nem imaginava que aquele seria o dia da experiência do maior amor em sua vida. No meio também estava o Senhor. Ele mirou aquela criatura com tanta ternura.
Enquanto isso, fariseus e escribas enchem a boca de argumento de autoridade: “A Lei de Moisés ordena que ‘tais mulheres’ sejam apedrejadas; que dizes tu?” (Jo 8,5). Nessa hora, Jesus se inclinou. Foi até o chão para se igualar à mulher. Foi até o chão porque veio assumir nossa frágil condição.
Inclinando-se, Jesus começou a escrever no chão com o dedo. Estaria tocando a ferida, o pecado dos escribas e fariseus? Ou esboçando um texto contra o medo que eles impunham à mulher?
Há um movimento de sobe e desce na cena. Quando os escribas e fariseus questionam, Jesus se levanta para enfrentá-los. Quando insistem em condenar a mulher, Jesus se rebaixa para acolhê-la. Ele se iguala aos humilhados. “Quem de vós estiver sem pecado atire a primeira pedra” (Jo 8,7).
Jesus continua a escrever, e o barulho da violência dá lugar aos sons de passos em fuga. Saíram, a começar pelos mais velhos. Certamente envergonhados, escondendo o rosto, disfarçando a raiva.
A mulher e Jesus ficam sozinhos no centro. Não há mais medo nem condenação. Ele se levanta, como que para reerguer a mulher. E assim se fez. Em Jesus, nossa miséria é transformada pela misericórdia. Ele nos tira da queda.
Pe. Antonio Iraildo Alves de Brito, ssp
O objetivo deste periódico é celebrar a presença de Deus na caminhada do povo e servir às comunidades eclesiais na preparação e realização da Liturgia da Palavra. Ele contém as leituras litúrgicas de cada domingo, proposta de reflexão, cantos do Hinário litúrgico da CNBB e um artigo que trata da liturgia do dia ou de algum acontecimento eclesial.
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