28 de agosto: 22º Domingo do Tempo Comum | Paulus Editora

O Domingo – Palavra
28 de agosto: 22º Domingo do Tempo Comum

DESDE O ÚLTIMO LUGAR

Laurinda ambiciona nada. Usa um chinelinho de dedo já com um arame no cabresto. Calcanhares gastos, tanto dos chinelos quanto dos pés. Reclama de nada também. Narrando a própria história, só sabe falar de gratidão.

Gratidão pela família. Muitos partos. Todo ano uma vida nova. “Mais uma boca para comer”, repetiam os vizinhos em coral. Laurinda nem se importava com a intromissão de tantos. Para ela, era mais um que chegava para somar, para ajudar.

As precisões eram muitas. Faltava tudo. Havia dias que até o que comer era escasso. Para não dizer que não havia nada. Laurinda, porém, jamais teve boca para reclamar. Na parede da sala, simples feito o seu coração, um quadro com a imagem de Nossa Senhora do Bom Parto. Todos os partos acompanhados pela parteira Francisca. A fileira de filhos a chamava de mãe Chiquinha. A Senhora do Bom Parto e mãe Chiquinha bem sabiam das dores de Laurinda. Todas as dores, antes e depois do parto.

Na casinha de taipa, na zona rural, não havia luz elétrica, telefone nem as tais redes digitais de hoje. Havia, sim, várias redes armadas em todas as repartições da casa, que não eram muitas. Cedo da noite, a filharada já se preparava para dormir. E todos em suas redinhas faziam aquele festival de pedir bênçãos. “Bença, mãe. Bença, pai”. Adormeciam. Lá fora o cachorro Jupi latia, e, no alto do céu limpo, a lua solitária velava a todos.

Antes de o sol nascer, o cheiro de café se espalhava pela casa, feito amor sem cobrança. Era Laurinda já desperta, fogão de lenha aceso e a merenda pronta. O marido e os filhos mais velhos iam para o roçado. Homens e mulheres ocupados com o que lhes cabia.

As crianças brincavam no outão da casa, onde passeavam galinhas, cabritos, gatinhos e outros animais domésticos. Ali construíam fazendas imaginadas, currais cheios de gado. Ah, seus carrinhos eram pedaços de tijolos. Os lábios dos pequenos faziam o barulho do motor enquanto empurravam o brinquedo criado. Seus cavalos eram pequenos cipós. A riqueza era a imaginação. Problemas havia. E como! Mas ninguém ambicionava grandes coisas.

A vida nos pede simplicidade todo dia. E um pouquinho de astúcia para não sermos enganados. A simplicidade nos leva às alturas, até o céu. Jesus ensinou que o céu é dos simples.

* * *

Neste Ano da Misericórdia, o papa Francisco insiste que não esqueçamos as obras de misericórdia. A cada domingo, neste espaço, mencionaremos uma delas. Primeira obra de misericórdia corporal: dar de comer a quem tem fome. O alimento (o pão) é uma necessidade fundamental do ser humano, e a fome é característica dos pobres, dos bem-aventurados, proclamados por Jesus. Dar de comer a quem tem fome é um “imperativo ético para toda a Igreja” (Bento 16).

Pe. Antonio Iraildo Alves de Brito, ssp


O Domingo – Palavra

O objetivo deste periódico é celebrar a presença de Deus na caminhada do povo e servir às comunidades eclesiais na preparação e realização da Liturgia da Palavra. Ele contém as leituras litúrgicas de cada domingo, proposta de reflexão, cantos do Hinário litúrgico da CNBB e um artigo que trata da liturgia do dia ou de algum acontecimento eclesial.

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