DOIS AMIGOS
Ninguém dava nada por Lázaro. Todos desviavam os olhos da “desfigura” daquela pobre criatura. Um trapo ambulante. Lázaro havia tempo não se sentia em casa no mundo. Perdera tudo. Não se sabe como.
Seu mundo, um abismo. Ou o contínuo de uma noite que nunca tivera dia ou de um dia que nunca tivera noite. Na verdade, sentia-se um “desmundo”, vagante, rua acima, rua abaixo.
Nem chinelo tinha. Os calcanhares eram feito pedras de ruas antigas. Carne aberta, eram cicatrizados pelo tempo e imunizados pela bondade da natureza, pela dureza da rocha áspera.
Ninguém nunca se interessou por Lázaro. Quando lhe davam esmolas, viravam-lhe o rosto. Nos semáforos, fechavam-lhe os vidros. Tudo frio: olhos humanos vidrados, carros blindados. Mas o coração de Lázaro batia. Sentia calor, frio, dor. Alegria, não. Ah, uma pontinha de alegria havia. Sua pequena alegria era a companhia do amigo inseparável, o cachorrinho Piaba. Era o único que lhe dava atenção. Nunca sentiu nojo do amigo, até lhe lambia as feridas. Conheceram-se na rua. Amizade fruto de duas solidões. Ambos sem nada para oferecer um ao outro. Nem casa, nem comida, nem bebida. Uma coisa bastava: companhia. Fosse noite, fosse dia. Chuva, sol, fome, calor ou frio.
Antes de encontrar Lázaro, Piaba era tratado pelos humanos por vira-lata vagabundo. Chutavam-no, sem que ele reagisse nem tivesse feito nada. Apenas grunhia. Coitadinho! Agora não, tem nome. Ele se abana de alegria só em ser chamado pelo nome.
Desde quando se encontraram, podem dormir quase em paz. Um ao lado do outro. Enquanto a cidade se agita, repousam sobre um papelão, ao lado de uma agência bancária. Cobertor curto, pés à mostra. Ninguém os vê mesmo. Lázaro e Piaba são invisíveis. Os humanos têm outras imagens muito mais atraentes, logo ali na avenida-símbolo da ostentação: vitrinas, grifes de alto nível, lojas exalando outros cheiros. Vão lá perder tempo com mendigo e com cachorro? Vão nada.
Lázaro e Piaba parecem ver mais. Ficam impressionados de testemunhar como há gente de mau humor, cara fechada, infeliz! Ambos calados, ali no canto da rua, com olhar meio para baixo, vêm os humanos em disparada, sendo consumidos, engolidos pelas imagens…
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A quinta obra de misericórdia corporal: assistir os enfermos. Na doença, a pessoa experimenta seus limites e sua finitude. Em sua missão pela Palestina, Jesus acolheu e curou muitos doentes. É importante lembrar e elogiar os ministros que visitam com amor os enfermos e lhes levam a eucaristia e o conforto.
Pe. Antonio Iraildo Alves de Brito, ssp
O objetivo deste periódico é celebrar a presença de Deus na caminhada do povo e servir às comunidades eclesiais na preparação e realização da Liturgia da Palavra. Ele contém as leituras litúrgicas de cada domingo, proposta de reflexão, cantos do Hinário litúrgico da CNBB e um artigo que trata da liturgia do dia ou de algum acontecimento eclesial.
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