A CONVERSÃO É URGENTE
Como de hábito, é possível estabelecer relações entre a primeira leitura e o texto do Evangelho. Ambas as leituras evocam situações dramáticas, de escravidão, opressão, humilhação, violência – em que pessoas são vítimas da ação de outras –, além de infortúnios e imprevistos infelizes.
O Evangelho relata que Jesus se deparou com duas notícias angustiantes: um episódio de repressão sangrenta por parte dos ocupantes romanos e a queda de uma torre que causou inúmeras vítimas. “Por que essas pessoas e não outras?”, alguns perguntam. Jesus sabe o que seus contemporâneos responderão espontaneamente: mais do que outras, essas pessoas eram pecadoras e a morte veio castigá-las.
O que, contudo, está subjacente a essa explicação? O desejo de justificar o infortúnio, para diminuir seu caráter escandaloso ou absurdo; o desejo de reafirmar que Deus é justo, para evitar questionar as certezas cultivadas; talvez também o desejo de se diferenciar das vítimas e de se sentir menos pecador do que elas.
As palavras de Jesus a esse respeito causam desconforto: a morte pode sobrevir cegamente e sem aviso prévio. É melhor ter consciência disso do que tentar explicar o inexplicável ou racionalizar o absurdo para se proteger dele. Se alguém desenvolver essa consciência, será levado a questionar-se, a avaliar seu modo de viver, seus compromissos, sua negligência, e depois discernir se não deve mudar sua mentalidade e seu comportamento. Sem isso, corre-se o risco de ser agente ativo na construção de uma sociedade que derrubará a todos.
A parábola que Jesus conta a seguir enfatiza essa advertência. Deus espera que seu povo dê frutos e está pronto para adiar seu julgamento e fazer o que for preciso, a fim de permitir que bons frutos amadureçam. Ele o faz porque nos ama e porque a vida será sempre mais forte do que a morte. O salmista bem observou isso: “O Senhor é terno e misericordioso, lento em irar-se e cheio de amor. Assim como o céu domina a terra, tão forte é o seu amor por aqueles que o temem” (Sl 103,8.11). A misericórdia divina, porém, não deve ser um pretexto para adiar o momento de mudar de vida. A conversão é urgente.
Christian Dino Batsi, ssp
O objetivo deste periódico é celebrar a presença de Deus na caminhada do povo e servir às comunidades eclesiais na preparação e realização da Liturgia da Palavra. Ele contém as leituras litúrgicas de cada domingo, proposta de reflexão, cantos do Hinário litúrgico da CNBB e um artigo que trata da liturgia do dia ou de algum acontecimento eclesial.
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