VOLTAREI PARA A CASA DO MEU PAI
A chamada parábola do pai misericordioso ou do filho pródigo (Lc 15,11-32) mostra que, depois de ter gasto os bens e chegado ao fundo do poço, o filho mais novo, longe de casa, lembra-se do pai e pensa: voltarei para casa. Muitos de nós nos identificamos com esse filho, que, por alguma razão, decide fugir de uma situação de vida e depois se arrepende e quer voltar. Voltar a viver o passado não é possível, mas, na maioria das vezes, é possível retomar um caminho que abandonamos, pensando ser ruim, e, após nos afastar, percebemos que não era realmente ruim.
Uma das belas coisas da vida que Deus nos dá é a possibilidade de pedir perdão e voltar atrás nas decisões. Há quem pense que pedir perdão e voltar atrás é sempre sinal de fraqueza. Nem sempre. Voltar atrás em decisões que estão nos conduzindo por caminhos de frustrações e infelicidade é sabedoria, é dom de Deus. Só quando estamos tomados por orgulho destrutivo nos prendemos a decisões erradas e não temos a coragem de dizer simplesmente: “Eu errei”.
Os efeitos do reconhecimento dos erros, em geral, são surpreendentes. Se o arrependimento é sincero, experimentamos aí a misericórdia de Deus e a sensação de ter nos livrado de grande fardo. É possível recomeçar.
É certo que devemos levar a sério nossas escolhas e não podemos brincar de forma irresponsável com o rumo dado à nossa vida, pois as escolhas têm consequências e um passo em falso pode ferir a nós mesmos e a pessoas que amamos. Entretanto, não nos desesperemos ao perceber que a existência é marcada pela falibilidade. Nem sempre acertamos. Queremos agir bem, mas mesmo assim agimos mal. Por isso, é confortante saber que Deus é um Pai misericordioso: ele nos acolhe de volta e nos restitui a dignidade quando, depois de nos afastarmos do caminho de amor e vida em abundância que ele nos propõe, decidimos voltar.
Deus é misericordioso. Sejamos nós também acolhedores e misericordiosos. Saibamos acolher, mesmo que muitas vezes tenhamos medo de estarmos sendo enganados. Quem fica preso ao excessivo medo de ser enganado e, por isso, não tem coragem de perdoar o próximo, de dar uma segunda chance, como fez o pai misericordioso da parábola, pode estar agindo como o filho mais velho, que se deixou dominar pelo rancor e pela pretensão de ser justo.
* * *
A terceira obra de misericórdia corporal: acolher o forasteiro. Ela nos lembra que também Israel foi migrante e estrangeiro na terra do Egito (Lv 19,34). O modelo bíblico de hospitalidade foi Abraão (Gn 18,2ss). São Bento aconselhava seus monges a praticar a hospitalidade. Muitos migrantes hoje em dia procuram hospitalidade em outros países e são barrados pelos governantes e hostilizados pela sociedade!
Pe. Claudiano Avelino dos Santos, ssp
O objetivo deste periódico é celebrar a presença de Deus na caminhada do povo e servir às comunidades eclesiais na preparação e realização da Liturgia da Palavra. Ele contém as leituras litúrgicas de cada domingo, proposta de reflexão, cantos do Hinário litúrgico da CNBB e um artigo que trata da liturgia do dia ou de algum acontecimento eclesial.
Assinar