Pedro, Paulo e suas basílicas em Roma | Paulus Editora

Colunistas

Religião e Comunicação

10/06/2024

Pedro, Paulo e suas basílicas em Roma

Por Darlei Zanon

No dia 29 de junho a Igreja celebra a solenidade de Pedro e Paulo, os dois grandes pilares da Igreja. Esta celebração é tão importante ao ponto de no Brasil ser transferida para o domingo seguinte. Desde as origens do cristianismo, esses dois santos são venerados juntos, um sinal claro da unidade e da complementaridade que definem e enriquecem a Igreja Católica. Duas personalidades tão diferentes, mas no fundo idênticas no ardor evangélico, na criatividade missionária, na responsabilidade institucional, na radicalidade e fidelidade ao seguimento de Cristo.

Já no século IV se celebrava nesta data, em Roma, três missas: uma na basílica de São Pedro, uma na basílica de São Paulo e outra nas catacumbas de São Sebastião, local onde provavelmente estiveram escondidos por muito tempo os corpos dos dois santos, e onde se encontram os sinais mais antigos de veneração conjunta, como na festa que agora recordamos.

Em um artigo anterior, neste mesmo espaço, tive a oportunidade de expor alguns elementos de unidade e complementariedade entre a missão e a identidade dos dois grandes apóstolos e pilares da Igreja: “Pedro e Paulo, unidade na diversidade”. Hoje gostaria de falar sobre os lugares onde se desenvolveu o culto aos santos, ou seja, sobre as basílicas romanas.

A palavra “basílica” vem do latim basilica, que deriva do grego basiliké. Significa “real”, ou mais especificamente “casa real”, e é a forma mais antiga de se referir a um templo público do Cristianismo. No período do Império Romano, uma “basílica” era o lugar onde estava localizado o tribunal de justiça e que servia também para as transações comerciais de grande escala. Aquele tipo de estrutura foi aproveitado pelo imperador Constantino como modelo para os primeiros centros de culto cristãos que ele mesmo fundou, ou seja, as originais basílicas de São João de Latrão e de São Pedro. Na prática, a basílica representa os primeiras lugares de culto, as primeiras “igrejas”, depois do reconhecimento do Cristianismo como religião oficial do Império, quando pôde deixar a “clandestinidade” e a reunião ou culto nas casas privadas, até então chamadas domus ecclesia. Só num momento posterior surgiram os termos “igreja” (de ecclesia, que significa assembleia ou reunião) e “catedral” (de cadeira, a sede do bispo local).

Os papas concedem o título de “basílica” a uma igreja de certa importância espiritual, histórica ou artística. Geralmente são santuários e catedrais que recebem um grande número de peregrinos pelos tesouros sagrados que guardam ou pela sua importância histórica. No total, existem mais de 1500 basílicas menores em todo o mundo, sendo que no Brasil estão 77 delas.

Porém, todas essas são chamadas basílicas menores, diferente das quatro basílicas romanas, chamadas “basílicas maiores”. Apenas as quatro basílicas de Roma recebem este nome de maiores ou papais, diferenciando-se das demais por terem uma particular ligação com o papa e gozarem de certos privilégios especiais, como ter um altar maior no qual apenas o papa e seus delegados podem celebrar a Missa e uma Porta Santa que os fiéis podem cruzar durante um Ano Santo para receber indulgência plenária. As quatro basílicas papais fazem parte do itinerário obrigatório de quem visita Roma, inclusive dos bispos do mundo todo em visita ad limina, que costumam celebrar cada dia em uma destas basílicas:

A Basílica de São João de Latrão é a mais antiga de todas, sendo construída inicialmente pelo imperador Constantino no século IV, no palácio da família nobre dos Lateranos. O papa São Silvestre consagrou o templo no ano 324, mas o formato atual só foi finalizado em 1589, após várias reformas e reconstruções. Ela tem enorme importância para o mundo católico por ser considerada a mãe de todas as igrejas, por isso abriga a sede (cátedra) do bispo de Roma, ou seja, do papa. Além disso, ela é a única que recebe o título de arquibasílica. Foi a sede dos papas até a transferência para Avinhão, na França, no ano 1309.

A atual Basílica de São Pedro foi construída entre 1506 e 1626 no local onde a tradição diz ter sido encontrado o túmulo de São Pedro, mas a primeira edificação data da época do imperador Constantino, construída entre os anos 326 e 333, após mandar demolir o circo de Calígula e Nero, local de jogos onde foram martirizados inúmeros cristãos a partir do ano 65. Hoje é parte do território do Vaticano. É a maior Igreja do mundo, com obras de decoração interna de Bernini que realçam sua beleza. Ali ocorrem os conclaves e é a residência oficial do papa. Quando o papado retornou de Avinhão para Roma, no ano1377, os papas passaram a residir primeiro em Santa Maria em Trastevere e depois em Santa Maria Maior, até se fixarem no Palácio Vaticano, ao lado da Basílica de São Pedro.

A Basílica de Santa Maria Maior, conhecida sobretudo por ser o local onde o Papa Francisco se dirige para rezar e agradecer antes e após suas viagens, foi construída entre os anos 440 e 442. Localizada no centro de Roma, é a primeira no Ocidente dedicada à Maria e foi construída pelo Papa Libério no local indicado por Nossa Senhora durante um sonho. Um dos destaques da Basílica é seu teto, que é todo dourado. Por alguns anos, no século XIV, foi sede do papa.

A Basílica de São Paulo, localizado na via Ostiense, fora dos muros de Roma, também é importante por conservar o túmulo do apóstolo Paulo. Sua aparência original sofreu uma reestruturação em estilo de época e o mosaico de sua fachada foi substituído após um grande incêndio no ano 1823. No seu interior podemos contemplar o teto em caixotões e oitenta colunas de granito, além de alguns vestígios da basílica original e os retratos de todos os papas da história da Igreja, de Pedro a Francisco, com espaço para os que ainda hão de vir.

nenhum comentário