Mistagogos e testemunhas da fé | Paulus Editora

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21/08/2024

Mistagogos e testemunhas da fé

Por Darlei Zanon

A Igreja dedica o mês de agosto especialmente às vocações, recordando, em cada domingo, uma vocação específica. É muito interessante notar que ao lado da vocação sacerdotal, à vida religiosa e à paternidade, que acabamos de celebrar, a Igreja dedique um dia (último domingo do mês de agosto, este ano celebrado no dia 25) à vocação do catequista, pessoas extraordinárias que se dedicam à formação e ao crescimento da fé dos novos cristãos, verdadeiros discípulos-missionários chamados a anunciar a Palavra de Deus e a testemunhar a fé com coragem e criatividade.

O papa Francisco tem grande estima pelos catequistas, tanto que os instituiu como “ministros” e dedicou a eles (e elas, porque a grande maioria das catequistas são mulheres) uma carta apostólica: Antiquum ministerium (AM). Nessa carta, sob forma de motu proprio, o ministério de catequista vem indicado pelo Sumo Pontífice como um dos primeiros serviços da Igreja primitiva elencados pelo apóstolo Paulo no capítulo 12 da sua primeira epístola aos Coríntios. O Papa afirma que: “Desde seus primórdios, a comunidade cristã conheceu uma forma difusa de ministerialidade, concretizada no serviço de homens e mulheres que, obedientes à ação do Espírito Santo, dedicaram a sua vida à edificação da Igreja. (…) É possível reconhecer, dentro da grande tradição carismática do Novo Testamento, a presença concreta de batizados que exerceram o ministério de transmitir, de forma mais orgânica, permanente e associada com as várias circunstâncias da vida, o ensinamento dos apóstolos e dos evangelistas” (AM, n. 2).

Francisco reconhece ainda que “nos nossos dias, há muitas catequistas competentes e perseverantes que estão à frente de comunidades em diferentes regiões, realizando uma missão insubstituível na transmissão e aprofundamento da fé” (AM, n. 3). Pelo interior do Brasil, onde muitas comunidades não contam com a presença regular de um sacerdote, são as catequistas, entre outros ministros, que educam e nutrem na fé milhares de crianças e adultos. O Sínodo dos bispos para a Amazônia e a sua exortação apostólica pos-sinodal “Querida Amazônia” nos apontam tantos exemplos que valeriam a pena serem recordados, mas o que gostaria de ressaltar aqui é a importância do reconhecimento do/da catequista como ministério, ligado à valorização do laicato e da sua missão, e que ao mesmo tempo reforça a identidade do catequista – e do leigo em geral – como membro ativo da evangelização na Igreja.

Fazendo ligação com o Diretório para a catequese, publicado em 2020 pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, e com a sua primeira exortação apostólica, a Evangelii gaudium, o Papa afirma que o catequista é um especialista na arte do acompanhamento: é simultaneamente testemunha da fé, mestre e mistagogo, acompanhante e pedagogo que instrui em nome da Igreja. O Diretória para a catequese oferece os princípios teológico-pastorais fundamentais e algumas orientações gerais que são relevantes para a práxis catequética no nosso tempo através de 12 capítulos divididos em três partes: 1. A catequese na missão evangelizadora da Igreja, 2. O processo catequético, 3. A catequese nas Igrejas particulares.

Antiquum ministerium destaca ainda que “o catequista é chamado, antes de mais nada, a exprimir a sua competência no serviço pastoral da transmissão da fé que se desenvolve nas suas diferentes etapas: desde o primeiro anúncio que introduz no querigma, passando pela instrução que torna conscientes da vida nova em Cristo e prepara de modo particular para os sacramentos da iniciação cristã, até à formação permanente que consente que cada batizado esteja sempre pronto ‘a dar a razão da sua esperança a todo aquele que lha peça’” (AM, n. 6) .

Ser catequista é uma verdadeira vocação, convocados para testemunhar a fé, inquietar os novos cristãos, provocando-os a mergulhar neste imenso mar de beleza que é a vida cristã. Mais do que conteúdos, são chamados a transmitir experiências, e a principal é o amor a Deus e aos irmãos. Esta era a pedagogia de Cristo, nosso Mestre. Não transmitia doutrinas, mas vida. Não falava em conceitos, mas por analogias e parábolas. Aproximava-se das pessoas e falava a cada um da maneira que compreenderia, tocando-lhe o coração mais do que a mente. Cristo falava através das suas ações, através dos seus gestos, através dos seus encontros e diálogos, e por isso seu ensinamento penetrava profundamente naqueles que o seguiam. A sua mensagem era como um organismo vivo, que provocava diferentes reações em cada ouvinte. Era como a semente lançada em diferentes terrenos (cf. Mt 13,1-23). Sua pedagogia era tão eficiente que até mesmo os opositores sentiam-se tocados pela mensagem e o reconheciam como Mestre. Muitos se convertiam. Os mais simples e receptivos ficavam encantados com a beleza da sua pregação, pois ele “falava com autoridade”, ou seja, com convicção e coerência com o que vivia, e reagiam com confiança: “o que devemos fazer?” (cf. Mc 10,17; Lc 3,12; Mt 19,16, Lc 18,18).

No mesmo parágrafo 6 da Antiquum ministerium citado acima, Francisco fala também sobre a necessidade da oração para fortalecer e assegurar a identidade do catequista. Alerta para o fato que “só mediante a oração, o estudo e a participação direta na vida da comunidade é que se pode desenvolver com coerência e responsabilidade” o ministério do catequista, daí a importância de todos rezarmos por estes pedagogos da fé e assim sustentarmos também através das nossas orações este ministério, para que os catequistas possam continuar a ser testemunhas da Palavra com coragem e criatividade na força do Espírito Santo, em cada uma das nossas paróquias e comunidades.

Reze pelos catequistas que você conhece, pelos catequistas da sua paróquia, pelos catequistas de todo o Brasil. Se ainda não leu a carta apostólica Antiquum ministerium, vale a pena dedicar um tempo a ela. Assim como à leitura do excelente livro apenas publicado pela PAULUS Editora que dá continuidade à coleção YOUCAT e que enfoca exatamente uma nova proposta de pedagogia catequética. O livro “Catequese dialógica” pode trazer novas luzes para renovar e inovar este “antigo ministério”. Pode ser, inclusive, uma bela indicação de presente a um catequista que você queira valorizar e agradecer.

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