A Carta de Tiago é a primeira das assim chamadas “cartas católicas” ou “cartas apostólicas”. No Nova Testamento temos a presença de três com o nome de Tiago: 1) Tiago irmão de João e filho de Zebedeu e Salomé, chamado “Maior”. Foi apóstolo de Jesus e morreu pelo ano 44 d.C. 2) Tiago filho de Alfeu também foi escolhido como apóstolo. Além disso é praticamente desconhecido. 3) Tiago irmão de Jesus e filho de Clopas e Maria, chamado “Menor”.
Qual dos três seria autor da carta? Provavelmente nenhum deles. O autor se apresente como “Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo” (Tg 1,1), sabemos, porém, que no final do primeiro século da era cristã, os três provavelmente já tinham morrido. O autor se apresentou como Tiago para atribuir o escrito a alguém de grande importância para a comunidade. Tiago irmão de Jesus teve grande importância na comunidade primitiva de Jerusalém, foi martirizado em 62 d.C.
Considerado um mestre da sabedoria, o autor soube extrair da sabedoria de Israel para elaborar seu texto. O texto assemelha-se muito à “sabedoria de Israel do Antigo Testamento”, uma coleção de sentenças de sabedoria. Faz como que uma releitura do “Sermão da Montanha” de Mateus (5-7). Provavelmente o autor seja um judeu-cristão bom conhecedor da Escritura, que repensa as máximas da sabedoria judaica.
A carta se preocupa com a vivência prática com qualquer tipo de religião que seja indiferente aos sofrimentos e à necessidade dos pobres. Temos uma clara opção de “Deus pelos pobres” (Tg 2,5), opção que a comunidade procurou assumir.
Os destinatários são as “doze tribos” da diáspora, ou seja, os que vivem fora do território de Israel e se reúnem na sinagoga. Essas “doze tribos” podem representar os cristãos de origem judaica dispersos no mundo greco-romano ou as comunidades cristãs espalhadas pelo mundo. Os destinatários, portanto, são pessoas convertidas do judaísmo, é o que a carta dá a entender. Podemos esquematizar a carta da seguinte forma.
1. Abertura (Tg 1,1): Uma simples frase que o autor se apresenta e apresenta os destinatários, mostrando que a carta não é dirigida apenas a uma comunidade particular, mas pode servir para outras comunidades.
2. Temas principais (Tg 1,2-27): Perseverança nas provações; a sabedoria, dom de Deus, precisa ser sempre buscada; os destinos dos pobres e dos ricos; Deus não é responsável das provações; a coerência entre o falar e o agir, proposta de uma fé prática.
3. A vivência da fé (Tg 2,1-26): Parece haver certa discriminação dentro da comunidade. Não fazer distinção entre as pessoas é uma exigência da fé. Cuidado para não discriminar os pobres, são os próximos que necessitam do amor e da solidariedade da comunidade.
4. Várias advertências (Tg 3,1-5,6): Não querer ser mestres que não são capazes de frear a língua. A língua pode construir e destruir, falar mal e bendizer. Que a boca fale daquilo que preenche o coração e o coração seja repleto de misericórdia. Nada de rivalidade dentro da comunidade. A sabedoria revela o modo de agir de cada um. Ela nos ensina como agir para produzir bons frutos. Os desejos egoístas e consumistas podem contaminar a relação entre as pessoas da comunidade. A seguir faz um alerta contra os ricos por não serem sensíveis aos pobres. As injustiças praticadas pelos ricos que planejam como ganhar mais dinheiro enquanto retêm o salário dos trabalhadores.
5. Exortações finais (Tg 5,7-20): A exemplo do agricultor, a comunidade é convidada a ser paciente na espera da vinda do Senhor, não é uma espera que leva à acomodação. A comunidade precisa estar atenta aos doentes. Por fim, preocupar-se com aqueles que se afastaram.