VIVER EM RELAÇÃO, A EXEMPLO DE DEUS
O Evangelho deste domingo é uma catequese sobre o matrimônio e o amor. É mensagem que nos cabe compreender profundamente, para não deturpá-la ou relativizá-la diante de certas situações que encontramos na sociedade contemporânea.
Dois pontos de tensão aparecem no texto do Gênesis citado por Jesus no Evangelho de hoje (v. 6-8): por um lado, essa passagem do Antigo Testamento apresenta a intenção original de Deus para o matrimônio; por outro, em situação de confronto com os fariseus, Jesus formula que a união matrimonial visa à união de dois seres num só, como esclarece seu comentário: “Já não são dois, mas uma só carne” (v. 8). Essa interpretação do texto do Gênesis contrasta com o que podemos ler nesse livro, o qual, embora enfatize a união (Gn 2,24-25), também sublinha a diferença entre homem e mulher (Gn 1,27).
Os fariseus se aproximaram de Jesus para enredá-lo numa armadilha, tentando colocá-lo em contradição com Moisés, que permitia a um homem se divorciar de sua esposa. Jesus replica como um rabino, ou seja, como um mestre judaico: faz uso de uma referência semelhante à dos fariseus, argumentando com base em um texto que, por preceder a Lei dada a Israel por Moisés, reivindica uma autoridade ainda mais forte.
Por isso, ao citar o texto do Gênesis, Jesus invoca o projeto inicial do Criador: a indissolubilidade do vínculo entre homem e mulher. Em relação a esse projeto, a Lei representa uma espécie de acomodação, tornada necessária pelas limitações do comportamento humano: “Foi por causa da dureza do vosso coração que Moisés vos deu esta regra” (v. 5). Assim, Jesus relê o Gênesis e o desenvolve em outro sentido. Enquanto certa leitura do texto do Gênesis evoca a dificuldade da relação entre mulher e homem e o estado de espírito exigido para ser plena, Jesus desenvolve o que essa relação pode permitir: construir verdadeira unidade entre os parceiros, unidade capaz de desafiar o tempo, evitando a armadilha da dureza de coração.
Mais do que aludir apenas à relação entre homem e mulher no matrimônio, a Palavra de Deus nos convida a viver como pessoas de relação, na união e no respeito às diferenças. Afinal, o próprio Deus é um ser relacional, ele que, pela aliança estabelecida em Cristo, se uniu definitivamente com a humanidade e se põe sempre em relação conosco.
Christian Dino Batsi, ssp
O objetivo deste periódico é celebrar a presença de Deus na caminhada do povo e servir às comunidades eclesiais na preparação e realização da Liturgia da Palavra. Ele contém as leituras litúrgicas de cada domingo, proposta de reflexão, cantos do Hinário litúrgico da CNBB e um artigo que trata da liturgia do dia ou de algum acontecimento eclesial.
Assinar