As festas e os santos juninos – Um conjunto de tradições, memórias e vivência cristã | Paulus Editora

Colunistas

Igreja e Sociedade

23/06/2023

As festas e os santos juninos – Um conjunto de tradições, memórias e vivência cristã

Por Cleane Santos

Celebradas anualmente em diversas regiões do Brasil, as festas juninas, também conhecidas como festas de São João, em virtude das vésperas das solenidades de Santo Antônio de Pádua (13 de junho), São João Batista (24 de junho) São Pedro e São Paulo (29 de junho), tornaram-se tradição e patrimônio cultural do povo brasileiro. Os costumes típicos do mês de junho são repletos de simbolismos, entre cores, cheiros, danças e sabores.

As comemorações são comuns nas grandes cidades, sobretudo, no nordeste brasileiro. As festas juninas foram introduzidas na cultura brasileira por influência dos portugueses no período colonial (1500-1822). Suas raízes estão inteiramente ligadas às tradições nordestinas que celebravam após o período das chuvas, a boa colheita.  

Os festejos juninos também abrem espaço para homenagear grandes santos da Igreja Católica que são considerados exímios pregadores da Palavra de Deus e fiéis seguidores de Jesus Cristo. O tempo é propício para festejar e atualizar a vivência cristã através dos testemunhos de vida destes santos.

Testemunhos de vida cristã

Partindo da figura de Santo Antônio de Pádua ou de Lisboa (1195-1231), encontramos um forte seguidor de Cristo e São Francisco de Assis, um exemplo de amor ao próximo, despojamento, retórica e pregação. Antônio viveu em um cenário marcado pela dor dos pobres e pelas injustiças sociais. Entretanto, destacou-se pelo auxílio aos pobres e inúmeras pregações e sermões que apontavam para Deus. Sua vida é marcada pela oração, silêncio, contemplação e estudo da Palavra.

Sua imagem evidencia um santo com vestes simples, olhar sereno e convicto que carrega nos braços o menino Jesus. Segundo sua biografia, no dia de sua morte, em 13 de junho de 1231, ele afirmava ver o Jesus menino. Em suas mãos percebe-se um lírio, símbolo de sua pureza, e a Bíblia, centro de sua missão evangelizadora. Na festa litúrgica de Santo Antônio, o pão e o bolo também são símbolos de partilha e fartura, fazendo memória dos pobres que não devem ser esquecidos. Antônio alcançou os altares, sendo canonizado em 1232 e proclamado doutor da Igreja pelo Papa Pio XII, em 1946.

Na obra “Santo Antônio contra o mundo”, publicada pela PAULUS Editora, o autor Dionísio Alcântara relata que tamanho era o compromisso do santo com a pregação da Palavra de Deus que após a exumação de seu corpo, sua língua foi achada intacta, sendo depositada em um relicário na basílica de Santo Antônio, em Pádua.  Pela força de sua pregação, entre outros títulos, Santo Antônio ficou conhecido como “martelo dos hereges”, sendo lembrado como o santo da pureza, da caridade, das coisas perdidas e das moças que anseiam pelo sacramento do matrimônio.

Em “São João Batista”, lembrado em 24 de junho, é possível compreender e aprender sobre o anúncio do Cristo para aqueles que não o conhecem. São João foi o precursor de Jesus e voz que clamava no deserto, exortando por vezes sobre a conversão dos pecados para a chegada do Messias, conforme narram os Evangelhos. São João Batista foi o primeiro mártir da Igreja ao ser decapitado durante o governo de Herodes Antipas, sendo tido como o último dos profetas. Filho de Santa Isabel, ele batizou Jesus no Rio Jordão e proclamou: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. (Jo.1,29). Sua imagem traz o santo com a cruz na mão, um cordeiro simbolizando o Cristo, vestes simples de pregador com cores marcantes como vermelho e roxo, que remetem ao martírio e à penitência.

Neste caminho, São Pedro, um dos primeiros discípulos de Cristo e primeiro Papa da Igreja Católica, também ensina-nos com sua vida o amor a Jesus e a compreensão das limitações humanas. Era irmão do apóstolo André e vivia em Betsaida, na Galileia. O apóstolo teve sua vida mudada após o encontro com Jesus. De simples pescador a conquistador de almas para Deus, de pecador a pastor do imenso rebanho do Senhor. Jesus o escolheu para formar e liderar a comunidade cristã primitiva. “Tu és Pedro e sobre esta pedra construirei a minha Igreja”, (Mt 16,18). E, após uma vida de anúncio do Evangelho, seguiu para Roma, onde sofreu o martírio.

No livro “Nos passos de Pedro”, o biblista prof. Luiz Alexandre Solano Rossi ressalta que entre as características de Pedro, a que mais se destaca é a total consciência de sua própria humanidade. “Ele não se via como alguém especial e melhor do que todos os outros. Na verdade, as suas muitas reações inadequadas estariam sempre presentes diante dos olhos dele para lembrá-lo de sua fragilidade. Ele desejava viver totalmente o projeto de discipulado de Jesus. Esta é uma das mais valiosas lições que aprendemos com o apóstolo: o encontro com Jesus, e as transformações dele decorrentes acontecem no dia a dia de cada um”, afirma o autor.

Além dos santos juninos, o apóstolo Paulo também é lembrado em 29 de junho ao lado de São Pedro, como exemplo de conversão, perseverança e vivência em comunidade. Paulo, nasceu na cidade de Tarso na Cilícia, por volta do século I d.C., possuía formação judaica e passou de perseguidor dos cristãos para um fiel pregador do Evangelho de Cristo. É um dos apóstolos mais influentes da Bíblia, sendo atribuída a ele a autoria de 13 cartas do Novo Testamento, direcionadas às comunidades cristãs. Por meio da experiência com o Cristo Ressuscitado na estrada de Damasco (At, 9.1-19), ele teve seu nome mudado de “Saulo” para Paulo, o apóstolo dos gentios cuja festa de conversão é celebrada em 25 de janeiro. Em suas exortações constantes, ele promoveu a conversão de muitos corações e a adesão à fé cristã.

Nas considerações da obra “O querigma nas cartas de Paulo”, o autor Bruno Tamancoldi afirma que São Paulo é o homem da catequese querigmática, ou seja, do primeiro anúncio da fé cristã, pois através de suas cartas demonstra como é o processo de evangelização. O autor lembra que o estudo sobre o apóstolo dos gentios possibilita entender como foi a trajetória da Igreja primitiva, além dos desafios da evangelização em múltiplas realidades.

Em resumo, festejar o mês de junho deve ser também para os cristãos a oportunidade de olhar além dos costumes populares da época, a fim de rememorar as histórias de vida desses grandes santos de Deus que são fontes de aprendizado, amor ao Cristo e inspiração para a caminhada e vivência cristã.

 

nenhum comentário