O impacto da internet no relacionamento entre as pessoas | Paulus Editora

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Igreja e Sociedade

06/03/2023

O impacto da internet no relacionamento entre as pessoas

Por Dom Edson Oriolo

A aceleração e o mindset digital vêm transformando e afetando diretamente a vida das pessoas, bem como suas ideias, seu modo de viver, conviver e agir. Os relacionamentos entre as pessoas aconteciam através da linguagem, do encontro, do diálogo e do acolhimento. A proximidade entre as pessoas é uma riqueza enorme, uma dádiva do Bom Deus. Recentemente, o contato entre as pessoas continua, mas está aumentando aquele feito por meio de textualizações e áudios eletrônicos. As relações, os diálogos e as partilhas por meios eletrônicos estão sendo compreendidos e mediados por computadores, aplicativos, smartphones e celulares.

Zuboff, na obra Capitalismo de Vigilância, afirma que “os verdadeiros mediadores entre as pessoas ou as ações são os computadores”. Eles apresentam uma nova maneira de comunicação: textos e áudios. Mas, por outro lado, faz uma crítica às plataformas de comunicação que tentam comprar dados sobre as pessoas. Tal atitude foge a qualquer controle e dá às plataformas domínio absoluto das informações que os seus usuários deixam ao fazer uso delas. Zuboff menciona a ingenuidade que a maioria dos usuários dos computadores têm, não tendo consciência do quanto as empresas sabem e ficando expostos pelo controle dos seus dados pessoais, gostos e interesses.

No entanto, a expressão “o Capitalismo de Vigilância”, difundida por Shoshana Zuboff, é uma nova lógica econômica em vigor, na qual os dados pessoais são monitorados e comercializados por cinco grandes empresas. As empresas Google, Amazon, Facebook, Apple e Microsoft fazem essas mediações. De acordo com pesquisas, 70% das notícias lidas pela internet são acessadas pelas plataformas Google e Facebook. Nelas os algoritmos estão funcionando com seus próprios critérios e interesses comerciais, políticos e éticos. Na obra de Zuboff tudo se transforma em um ciclo de extração, predição e venda de dados pessoais dos usuários para comercialização. As grandes empresas utilizam essas informações para alimentar inteligências artificiais capazes de antecipar o comportamento humano em todas as suas dimensões.

Assim sendo, toda vez que acessamos a internet através de busca, de um clique de acesso a um link, ao fazer uma curtida e ao nos envolver em um site de relacionamento, compartilhando uma informação, produzimos uma quantidade de dados para as empresas formadoras de opinião, e, portanto, deixamos rastros. Os algoritmos são capazes de saber nossas inclinações, gostos, projetos, onde andamos, o que falamos, nossas opiniões, percebendo quem somos pelos dados precisos que informamos em textos e áudios. As plataformas (Google, Amazon, Facebook, Apple e Microsoft) estão apropriando de dadose se aproximando cada vez da nossa companhia, em todas as dimensões, inclusive no aspecto psicológico. Estamos vivendo num mundo totalmente provocativo. Essas informações sobre a ação humana, capturadas pelos aplicativos, estão modificando o comportamento humano com seus produtos de previsão.

Zuboff afirma que o algoritmo identifica as formas de pensamento e as informações mais valorizadas e comanda nas pessoas a sua maneira de ser, pensar, agir, principalmente em seu relacionamento. Essa nova forma de nos relacionar com o mundo virtual possibilita a previsão das expectativas pessoais, modificando o comportamento humano. Os nossos dados são controlados pelas transações econômicas, pela internet das coisas, pelo acesso a dados governamentais e corporativos, pelas câmeras de vigilância públicas e privadas monitorando os comportamentos.

Temos que sair um pouco fora da curva para entender que essa nova realidade está influenciando sutilmente em nossa maneira de relacionar. Essa nova lógica de dialogar em textos e áudios vem causando um vazio e destruindo a privacidade quando encaminhamos para os contatos de terceiros o que recebemos. Ainda não sabemos o que está sendo reservado à humanidade num futuro próximo.

O Papa Francisco faz um convite para trabalhar pela cultura do encontro. A cultura do encontro vai ajudar a curar as feridas da humanidade contemporânea, a renovar os pensamentos e as ações, orientando para a paz, recriando a unidade, respeitando a diversidade. Criar pontes possibilita resolver as diferenças mediante formas de diálogo que nos permitem crescer na compreensão do essencial da vida.

Vamos salvaguardar o diálogo e os encontros que modificam a vida das pessoas e transformam esquemas mentais. O diálogo face a face é pessoal e forte, faz acreditar no outro, suscita adesão profunda, total, confiança, transparência e conversão.

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