SER TESTEMUNHA DE CRISTO
A transfiguração do Senhor é um dos relatos mais conhecidos por nós. A montanha – ponto de encontro, na Bíblia, entre Deus e seus eleitos – reúne, no episódio em questão, Jesus e três discípulos: ali ele se transfigura e tem revelada sua identidade de Filho de Deus, ao passo que os discípulos são tomados por certa perplexidade.
A revelação de Jesus transfigurado suscita em Pedro, Tiago e João apenas uma preocupação corriqueira acerca do erguimento de tendas, e a reação de Pedro denuncia a incompreensão dos discípulos a respeito do caminho de Cristo rumo à sua paixão e ressurreição. Também para nós, as manifestações do Senhor em nossa vida permanecerão distantes e incompreensíveis se não nos deixarmos iluminar pela Palavra de Deus, a qual sempre foi e será verdadeiramente capaz de despertar uma reação de fé nos discípulos de ontem e de hoje.
Além disso, o relato nos informa que os discípulos caíram no chão, tomados de grande medo. No entanto, tocando-os, Jesus os traz de volta à confiança da fé. No Evangelho de Mateus, o verbo “tocar” é empregado exclusivamente em narrativas de curas e exorcismos. A palavra de Jesus: “Levantai-vos” vai, por conseguinte, nessa direção, não só abrangendo o aspecto da cura (do medo e da descrença), mas também, mais propriamente, o da ressurreição, indicando mudança, renovação e recriação. De fato, não era apropriado que ficassem em tendas, tendo em vista a vida nova e itinerante que os aguardava – pois é tarefa dos discípulos e discípulas de todos os tempos testemunhar o Senhor, depois de conhecê-lo de perto.
A ressurreição de Jesus e a revelação de sua identidade só podem ser compreendidas à luz da cruz, lugar do mistério do rebaixamento. Na narrativa do Evangelho, nota-se que há maior ênfase na descida da montanha do que na subida – a escalada para a transfiguração mal é descrita. Portanto, é na descida, movimento de rebaixamento, que o percurso histórico da fé dos discípulos e discípulas de Cristo deve se realizar. Com efeito, depois do reconhecimento do Ressuscitado, do Filho do Deus vivo, luminoso doador da vida e da fé, é preciso voltar ao chão da existência, com seus desafios e dores, para agir como ele agiu. Essa é a nossa missão.
Christian Dino Batsi, ssp
O objetivo deste periódico é celebrar a presença de Deus na caminhada do povo e servir às comunidades eclesiais na preparação e realização da Liturgia da Palavra. Ele contém as leituras litúrgicas de cada domingo, proposta de reflexão, cantos do Hinário litúrgico da CNBB e um artigo que trata da liturgia do dia ou de algum acontecimento eclesial.
Assinar