Palavra de Deus na sociedade em desconstrução | Paulus Editora

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Igreja e Sociedade

13/09/2022

Palavra de Deus na sociedade em desconstrução

Por Dom Edson Oriolo

Nos tempos atuais, temos que usar de todos os recursos para vivenciar e proclamar a Palavra de Deus. Eis a sublime missão da Igreja! É o anúncio da Boa-Nova que junta os fiéis (cf. LG 26; PO 4), na dinâmica da Igreja doméstica. Somos impelidos a ser ousados e criativos na evangelização. A origem e o princípio da comunidade eclesial missionária, que tem como centro e ponto culminante a Eucaristia (cf. CD, n. 30), é a Palavra de Deus anunciada, escutada, meditada e encarnada na vida das pessoas.

Estamos vivendo numa sociedade em “desconstrução”, que muito necessita da proclamação da Palavra de Deus. Na carta Fratelli Tutti (FT), Francisco usa essa expressão: desconstrucionismo (cf. n. 13). Um movimento intelectual da década de 60 que procurou desfazer as verdades vinculadas à tradição, tendo como fundamento uma concepção pluralista. Esse movimento vem ganhando espaço com o avanço da tecnologia, vivenciada nas redes sociais, na era cibernética.

Na perspectiva do papa Francisco, o desconstrucionismo é uma penetração cultural “em que a liberdade humana pretende construir tudo a partir do zero […], nova forma de colonização cultural […]. Uma maneira eficaz de dissolver a consciência histórica, o pensamento crítico, o empenho pela justiça e os percursos de integração é esvaziar de sentido ou manipular as ‘grandes’ palavras” (FT, n. 14).

No documentário “Privacidade Hackeadora”, Christopher Wylie, cientista de dados que ajudou a formar a Cambridge Analytica, usou informações pessoais de 50 milhões de perfis para criar perfil psicológico para fins eleitorais, uma máquina de serviço complexo de propaganda e mencionou o pensamento de Steve Bannon.

A doutrina do Breitbart, liderada por Steve Bannon, ensinava que: “se quiser mudar a base de uma sociedade precisa destruí-la e só quando destruída poderá ser remodelada a partir de seus pedaços com visão de uma nova sociedade”. Para criar uma cultura de guerra necessitamos de banco de dados. No entanto, pelas redes sociais conseguimos obter dados. Os algoritmos ajudam focar nas pessoas com personalidade e construir um perfil psicológico. Essa metodologia mexe com o processo democrático. Por ela os interessados vão atingindo o que querem. Isso passa a ser uma penetração cultural do desconstrucionismo.

Todos nós temos plena ciência de que, quando criamos uma metodologia de ódio, acabamos gerando ódio e mais ódio e, a partir daí, surgem conflitos, guerras, desavenças etc. Atualmente, podemos perceber que as redes sociais, além de serem uma ferramenta de informação e relacionamento, produzem por outro lado, através dos algoritmos e bolhas digitais, muito ódio, intriga e guerra, principalmente, pelas fake news.

Frente a essa realidade, o Papa Francisco, de maneira sutil, fala na Fratelli Tutti, que não podemos desprezar a história nem rejeitar a riqueza espiritual e humana que foi transmitida através das gerações.  Ignorar tudo quanto nos precedeu e suas questões tradicionais é impossibilitar a compreensão do mundo em que vivemos (cf. FT, n. 13).

Acredito que uma maneira para rever essa cultura do desconstrucionismo é atingir o maior número possível de pessoas com a Palavra de Deus, o avivamento de nossas comunidades eclesiais missionárias, isto é, Igrejas abertas e em saída. Fortalecidas pela Palavra encarnada, as comunidades eclesiais serão mais ousadas, criativas e visionárias. São Paulo andou a pé e de barco para lançar a Palavra de Deus. São João Paulo II de avião e nós podemos usar o rádio, a televisão, a internet, as redes sociais e os nossos templos para aproximar mais as pessoas de Deus e fortalecer as nossas comunidades paroquiais e eclesiais missionárias.

Francisco apresenta uma visão que implica novos comportamentos pastorais e que se apresenta também como uma resposta ao desconstrucionismo. Francisco sinaliza que não se pode ignorar o risco de que podemos acabar vítimas de uma esclerose cultural (cf. FT, n. 134). Ele sugere a necessidade de se manter em diálogo confiante e paciente, para que os valores sejam transmitidos e, assim, serem fecundados com o acolhimento das experiências alheias (cf. FT, n. 134).

No entanto, numa sociedade em desconstrução somos chamados a encontrar com a Palavra de Deus nas grandes ações da Igreja, isto é, nos círculos bíblicos, na liturgia, na catequese. A Igreja deve ir ao encontro de todos com a força do Espírito (cf. 1 Cor 2,5) e continuar profeticamente a defender o direito e a liberdade das pessoas escutarem a Palavra de Deus, procurando meios mais eficazes para proclamar, mesmo sob risco de perseguição (cf. VD, n.95).

1 comentário

13/9/2022

Maria Judite Vieira de Matos

Otima instrução e reflexão. Todos necessitando deste conteúdo. Estpu compartilhando.