O Evangelho de Marcos não narra as tentações referentes a Jesus, apenas diz que “o Espírito levou Jesus para o deserto… e aí foi tentado por satanás”. Essa informação vem logo após a descrição do batismo de Jesus, quando o Espírito Santo desceu sobre ele em forma de pomba e a voz do Pai celeste o apresentou ao mundo, de modo solene: “Tu és o meu Filho amado. Em ti eu me agrado” (Mc 1,11). Aqui Jesus é declarado Filho de Deus. O evangelista quer mostrar que Jesus, embora seja Filho de Deus, não é um super-homem, alguém que impõe seu messianismo a ferro e fogo. Nada disso. Jesus se fez homem, semelhante aos outros homens, e “foi provado como nós em tudo, menos no pecado” (Hb 4,15). Por isso está sujeito às tentações de “satanás”, símbolo das forças do mal.
A menção ao deserto nos ajuda a compreender quem é Jesus. Neste Evangelho, o deserto é, acima de tudo, o lugar para o qual Jesus se retira em vista de estar a sós com o Pai e rezar (cf. Mc 1,35). O deserto é também o espaço onde Jesus recebia as multidões, ansiosas por saciar sua fome de pão e da Palavra de Deus e serem curadas de suas enfermidades. Além disso, o deserto é o ambiente aonde Jesus levou seus discípulos, após a grande estreia missionária deles (cf. Mc 6,31). Momento de partilhar o bem realizado e de refazer as forças para os próximos passos. No deserto, Jesus não só mostra sua verdadeira identidade, mas concentra-se no sentido de sua missão. Com efeito, apenas terminada a tentação, Jesus irrompe no meio do povo, proclamando em alta voz: “O Reino de Deus está próximo, convertam-se e creiam no Evangelho”.
Cabe-nos perguntar: de que modo Jesus vence as tentações do dia a dia? Voltando ao deserto interior, entrando em sintonia com o Espírito Santo, visto que Jesus agia “pelo dedo de Deus”, isto é, impulsionado e guiado pelo Espírito Santo.
Encontramos aqui um “aliado” indispensável na luta contra as tentações: o Espírito Santo. Então, deixemo-nos conduzir pelo Espírito recebido no batismo; sejamos íntimos dele, invocando-o a todo instante. E, por ele inspirados, digamos ao Pai, todos os dias: “Não nos deixes cair em tentação” (Lc 11,4).
Pe. Luiz Miguel Duarte, ssp
O objetivo deste periódico é celebrar a presença de Deus na caminhada do povo e servir às comunidades eclesiais na preparação e realização da Liturgia da Palavra. Ele contém as leituras litúrgicas de cada domingo, proposta de reflexão, cantos do Hinário litúrgico da CNBB e um artigo que trata da liturgia do dia ou de algum acontecimento eclesial.
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