“Temos de fazer o melhor que pudermos.
Essa é a nossa sagrada responsabilidade humana” (Albert Einstein).
– Professor, o que vamos fazer hoje?
Ainda entrava na sala quando fui surpreendido pela pergunta da pequena aluna com olhar carregado de expectativa. Sim, seus olhos brilhavam. Fitei-a e sua sede pelo saber tocou-me profundamente. Pensei no tema da aula e refleti: “Será que o que preparei atenderá seus desejos?”. Se respondesse exatamente o plano de aula que havia elaborado, certamente iria frustrar seu encanto. Disse-lhe então:
– Hoje iremos fazer uma viagem.
E ela respondeu:
– Oba! – e retornou para o seu lugar.
Perguntas como essa são frequentes quando os alunos sonham e desejam algo mais. Verdade, eles querem ir além do que está estabelecido.
– Professor, conte-nos uma história – pede um deles.
– E hoje, vamos fazer uma atividade bem legal, uma dinâmica – intercede outro.
Os profissionais da educação esforçam-se na elaboração dos programas de aula com uma diversidade de conteúdos, estratégias, atividades. E realmente isso se faz necessário. Mas é necessário também que o ato de educar esteja repleto de sentimentos. A relação do educador com seus educandos deve estar recheada de acolhida, companheirismo e afeto. As diversas informações, as inúmeras experiências e todo o conjunto de conhecimento adquirido só terão sentido se a presença e o ofício do educador estiverem pautados no afeto. “Não é o muito saber que sacia e satisfaz a alma, mas o sentir e saborear internamente as coisas”, dizia Santo Inácio de Loyola.
A palavra “afeto”, segundo o dicionário, expressa o sentimento de carinho e amor. “E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria” (1Cor 13,2). Em toda e qualquer profissão é preciso que haja amor, mas, em educação, esse sentimento chega antes e permanece.
O Mestre Jesus Cristo, grande e autêntico educador, vivenciava sua afetividade na relação com todos, especialmente os mais necessitados, aqueles que se apresentavam com fome e sede de vida. Demonstrar – e ter – afeto é arriscar um pouco mais. É se aproximar, tocar, envolver e ser envolvido, contagiar. Olhar o outro na sua inteireza. Estender a mão. Acolher no coração. Diante da mulher pecadora, antes de expressar-se verbalmente, Jesus manifesta seu afeto. Mesmo aqueles que desejavam incriminá-lo, usando a mulher como alternativa, Ele os fez refletir: “Quem não tiver pecado, atire a primeira pedra”. E ali, sentado no chão, ao lado daquela que nem ousa levantar a cabeça, Jesus se compadece. Desce e experimenta a dor e o peso que ela carrega. Tomando-a pela mão, olha a sua alma. Perdoa-a antes de perguntar: “Ninguém te condenou?”. “Não, Senhor”, disse ela. “Nem eu posso”. E com um abraço afetuoso, ela se renova, se transforma e acredita na vida nova. Deixará para trás as sombras. O encontro de afeto com o Mestre a resgatou para a vida plena.
A pedagogia do afeto não é novidade. Ensinar com amor é característico dos grandes homens e mulheres, dos santos, dos anônimos, dos mais simples. Educar requer afeto, presença, compaixão. O educador que se abaixa, desce de seu púlpito, vai ao encontro, fica no mesmo nível do seu pequeno discípulo, olha com o coração, estende a mão, está preparado para semear a esperança e a vida. E certamente colherá a felicidade ao ver o amadurecimento dos seus educandos.
Que professor, ao andar pela rua, não ouviu sequer uma vez: “Professor, professor!”? Paramos para descobrir quem nos chama. E lá vem nosso antigo aluno com um brilho nos olhos e um sorriso mais lindo. Feliz por nos reencontrar depois de um longo período. Às vezes nem lembramos seu nome. Mas nesse momento somos invadidos por uma sensação de bem-estar, de gratidão. De certa forma marcamos a vida desse aluno. E com certeza não foram os conteúdos abordados, mas sim o modo pelo qual os abordamos: a maneira de testemunhar a nossa missão; a acolhida, o incentivo, o sorriso; nosso jeito de ser… Foi o afeto que fez toda a diferença.
“O mestre nasce da exuberância da felicidade. E, por isso mesmo, quando perguntados sobre sua profissão, os professores deveriam ter coragem para dar a absurda resposta: ‘Sou um pastor da alegria…’ Mas, é claro, somente os seus alunos poderão atestar da verdade da sua declaração…” (Rubem Alves).
Educar é estar em contato. Educar com afeto é estar junto, lado a lado. Mãos que se olham. Olhos que se tocam.
Rogério, você é um educador que nos orgulha muito, não só pela compreensão que possui sobre a sua responsabilidade na formação dessas crianças, mas pelo amor que dedica aos seus, promovendo uma educação, baseada no afeto e compromisso formando alunos felizes e seguros, para estarem no mundo real! Obrigada! Mirlene
Segundo o mestre, Rubem Alves, toda experiência de aprendizagem se inicia com uma experiência afetiva. É a fome que põe em funcionamento o aparelho pensador. Fome é afeto. O pensamento nasce do afeto, nasce da fome. E para assumir essa responsabilidade, o professor tem uma missão muito importante, levar o afeto e fomentar nos corações dos nossos educandos, a busca pelo conhecimento, sobre isso, Rogério Darabas, descreve em seu artigo do mês, a importância do educador nesse processo, deixando suas impressões para toda a vida, no coração de nossos alunos! Parabéns Rogério!
Otimo artigo, parabens ao grande colunista Rogerio Darabas pelas suas belas palavras.