A vida (quase) em férias | Paulus Editora

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Fé e Educação

16/01/2017

A vida (quase) em férias

Por Rogério Darabas

Depois de um longo e árduo período de trabalho ou de estudo, o que queremos é descansar. Acordar mais tarde, curtir o dia de forma diferente, viajar, não ter nenhuma preocupação. Pernas pro ar, relaxar. Mas será que é possível desligar-se totalmente? Saborear este período sem preocupar-se com o que nos aguarda no retorno? Cada ser é único e também aqui, encontra a melhor maneira de aproveitar.

No campo da educação, assim como qualquer outro setor, o trabalho do professor é sempre desafiador. Isso nos impulsiona a pensarmos novas propostas e estratégias diante de tantas mudanças. Para os alunos não é diferente. São sempre mais exigidos. O mercado quer profissionais mais preparados. Estudar, é de fato, muito trabalhoso. Professor e aluno, as férias chegaram! Eis o dia tão esperado. Retira-se um peso das costas. Agora vamos descansar.

Aqui lembrei da música do Lenine: “Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma. Até quando o corpo pede um pouco mais de alma. A vida não para”. Verdade, a vida não para. As férias são um momento propício para o descanso do corpo, da mente, da alma. Parar, se faz necessário.

Para continuar vivendo melhor, ser inteiro, ser pleno. Outra estrofe da mesma música:  “Enquanto o tempo acelera e pede pressa, eu me recuso, faço hora, vou na valsa. A vida é tão rara.”

Nós educadores, pensamos às vezes,  no período de férias como uma oportunidade de cursos, reciclagem. Ou ainda, para ler, pesquisar, preparar atividades. Esses de fato são  importantes, mas não podem comprometer nosso bem estar, o lazer e o descanso. O sociólogo italiano Domenico De Masi defende a ideia do “ócio criativo”. Numa sociedade que vive aceleradamente, que parece nos faltar tempo para tudo, é preciso e fundamental parar. Mudar o rumo. Somos mais criativos quando vivemos mais leves e soltos, desprendidos. Acredito que as férias, bem aproveitadas, possibilitam uma retomada de nossa essência, um encontro consigo mesmo. “É preciso estar meio desatento para ver a verdade”, escreveu Rubem Alves.

E mesmo o trabalho, compromisso diário, não deveria ser encarado como algo pesado, um fardo. Claro que hoje, mais do que nunca, o trabalho se tornou fundamental para a sobrevivência. As questões  econômicas e políticas deixam o ser humano inseguro, tempos de instabilidade. O ideal seria que o trabalho fosse sempre uma possibilidade para a produção de um bem ou serviço e realização do humano. Onde, cada pessoa, exercendo sua criatividade, percebesse  seus dons e talentos.

O monge da abadia beneditina alemã de  Münsterschwarzach, em seu livro – Tranquilidade do coração – conta uma interessante história:

 Era uma vez um homem que desgostava tanto de sua sombra e era tão infeliz com seus próprios passos que resolveu deixá-los para trás. Disse a si mesmo: vou simplesmente fugir deles. Então se pôs de pé e começou a correr. Mas toda vez que levantava o pé e dava um passo, sua sombra o seguia sem esforço algum. Voltou a dizer para si mesmo: preciso correr mais depressa. Então correu cada vez mais rápido, até cair morto. Se tivesse simplesmente entrado na sombra de uma árvore, teria se livrado de sua sombra, e se  tivesse se sentado, não teria dado mais nenhum passo. Mas ele não pensou nisso. (Dschuang Dse)

Seja no trabalho ou em férias, num momento determinado ou ao acaso, num grande evento ou no cotidiano, a vida não para. Ela sempre nos convida a sermos nós mesmos. Viver em plenitude e inteireza. As férias chegaram! A vida agradece e se enriquece.

1 comentário

17/1/2017

Mirlene Moreira Melo Canestraro

Fantástico, delícia de texto Rogério! A sabedoria está em apreciar o que a vida tem a nos oferecer! Obrigada por escrever um texto leve e enriquecedor! Abraços