Além da vida… | Paulus Editora

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Fé e Educação

22/08/2016

Além da vida…

Por Rogério Darabas

                                                 “Debaixo do céu há momento para tudo, e tempo certo para cada coisa: Tempo para nascer e tempo para morrer.”  (Eclesiastes 3, 1-2a)

– Professor, eu tenho medo de morrer.

Fui surpreendido pela afirmação de uma aluna, ao entrar em uma das turmas para a aula de Ensino Religioso. A aluna, com seus 11 anos de idade e olhar expressivo buscava conforto para o grande mistério. E então, novas questões foram surgindo apresentadas pelos seus colegas: Morrer dói? Para onde vamos? É escuro? Consigo ver as pessoas que ficaram? Posso me comunicar com elas?

Vida e morte, morte e vida. Na medida em que tomamos consciência de nosso ser, e, sobretudo, quando sentimos prazer em viver, realizar, alcançar objetivos, vencer, evitamos pensar sobre a nossa finitude. Mas é certo, o fim de nossos dias chegará. Jamais estamos prontos, mas podemos sim nos preparar.

Não podemos nos esconder, fugir, tentar enganar aquilo que é inevitável. Então o jeito é encarar o “leão” de frente, olhar bem nos olhos e mostrar a nossa força.  Ao afirmarmos que a morte faz parte da vida, estamos confirmando que a vida deve sim, estar no comando.

O filósofo e escritor Rubem Alves escreveu: “A morte e a vida não são contrárias. São irmãs. A reverência pela vida exige que sejamos sábios para permitir que a morte chegue quando a vida deseja ir.”  E ainda: “A morte nunca me fala sobre a morte. Ela só fala sobre a vida. E ela sempre nos pergunta: ‘O que é que você está esperando?’” (Rubem Alves)

O questionamento dos alunos era: Por que morremos? A alternativa encontrada foi reelaborar a pergunta: Por que vivemos? Qual o sentido da vida? A partir dessas indagações, a reflexão foi sendo desenvolvida num olhar de busca da verdadeira essência do ser humano e sua missão. Por que eu vivo? Quais os meus talentos? Minhas qualidades? Qual a contribuição que posso deixar para o mundo?

Aliás, uma ótima estratégia com crianças, adolescentes e jovens, é fazê-los questionar, elaborar perguntas. Algo pouco desenvolvido na educação. As perguntas nos colocam a caminho, em busca, abrem horizontes, ampliam nosso olhar. Diante de um assunto delicado e por vezes evitado, é preciso resgatar aquilo que é realmente essencial: viver.·.

E aquela aula se tornou um bate-papo leve e profundo, instigante e agradável. Falamos sobre a vida, sonhos, desejos, perspectivas e com tudo o que ela nos apresenta. Aos poucos, senti que a palavra morte foi sendo tratada com naturalidade. Os alunos foram percebendo que cada instante deve ser bem vivido. Que a jornada nesta vida irá nos preparando para entender os mistérios de nossa finitude.

Podemos, como educadores e pais, utilizar os mais diversos recursos para refletirmos sobre o sentido da vida: parábolas bíblicas, histórias do cotidiano, músicas, trechos de filmes e dinâmicas: atividades onde possam se expressar, vivenciar e resgatar valores existenciais. Para cada faixa etária, há muitas possibilidades. Medos e questionamentos sempre surgirão e temos sim o compromisso de educar e formar com sinceridade e, sobretudo acolhida. Quando crianças e jovens são acolhidos, eles confiam plenamente na capacidade de enfrentar os desafios e sentem-se plenos, não acabados, mas em constante transformação.

É inegável que com a morte exista a dor, a tristeza, a saudade. Por outro lado, para quem tem fé e aqueles que desejam entender tais mistérios, compreender os aspectos relacionados à nossa finitude, nos prepara a viver bem e a creditar no quem vem depois.

 A morte nos fala da vida. É um convite para resgatar os verdadeiros valores, o que realmente importa. Afinal, além da vida, há vida. A morte não é o fim, é um momento. A vida é única, é eterna.

2 comentários

22/8/2016

Mirlene Moreira Melo Canestraro

Rogério, é inegável nos separarmos com assuntos dos quais são revelados como tabus, pela falta de conhecimento a respeito. Parabenizo-o pela sensibilidade que revela ao olhar para seu educando e perceber suas dúvidas e necessidades. Com certeza esse diálogo proposto por você, fomenta em meio aos seus alunos, vivenciar experiências que os permitem compreender o que sentem a respeito. Minha admiração, parabéns!

24/8/2016

Carla Benson

Parabéns e Obrigada Rogerio Darabas! Parabéns pelo lindo texto e pelo q vc alcançou na sua profissão. Digo isso pq como professora sei q qdo uma criança nos surpreende com uma pergunta destas é pq já nos tornamos muito mais que professores para aquele 'serzinho´. E obrigada por nos presentear mensalmente com estas doses de sabedoria.