O sofrimento psíquico manifesta-se ultimamente sob a forma de depressão. Atingindo no corpo e na alma por essa estranha síndrome em que se mistura a tristeza e a apatia, na busca da identidade e no preenchimento do vazio de seus desejos. O sofredor não acredita mais na validade de nenhuma terapia. E muito menos quer gastar seu precioso tempo e dinheiro investindo nisso. Por isso, passa da psicoterapia para a psicofarmacologia.
As facilidades contemporâneas tornou-se uma espécie de ópio social. As promessas de alongamento do tempo funcionam como um chamariz mercadológico, porque, na verdade, o tempo é cada vez mais escasso e penoso.
Quando nos referimos ao tempo, não falamos do tempo “cronos”, que pode ser mensurado e quantificado, nos referimos ao tempo subjetivo, àquele que precisamos significar com nossas impressões e interpretações. E para esse tempo, não há tempo…
Afundamos-nos em atividades vazias, investimos em relacionamentos virtuais desprovidos de autenticidade, gastamos o “cronos”, e assim, perdemos contato com o que nos torna verdadeiramente humanos, a subjetividade.
Como lidar com algo subjetivo que é o sofrimento, e, portanto, humano, no mundo “cronos” e da objetividade? Entregando-nos ao mecânico e acelerado processo da medicina científica, ou de qualquer outra milagrosa promessa de alívio e de paz.
A velocidade das informações e o dinamismo dos acontecimentos esboçam um mundo efêmero e passageiro. Nada que demore muito pode ser bom, porque a “qualidade” está na rapidez.
É por isso que assistimos, em especial nas sociedades ocidentais, a um crescimento inacreditável do mundinho dos curandeiros, dos feiticeiros, dos videntes e dos magnetizadores, o cientificismo cognitivo, e pseudoautores de teorias psíquicas.
Quanto a isso vemos um grande embate: os que valorizam o homem máquina, aquele cujo a principal característica está na relação entre produção e consumo, e os que acreditam no ser humano como um ser desejante, termo utilizado por Sigmund Freud para caracterizar o homem natural, escravo das próprias condições humanas, que portanto é passível de erros, sofrimentos, decisões e acertos.
Quem quer nesse mundo se deparar com esse homem “desejante”? Não temos tempo para refletir sobre a origem da infelicidade. É preciso ser rápido. Assim, passamos da era do confronto para a era da evitação, e do culto da glória para a revalorização dos covardes.
Que confronto é esse que tanto rejeitamos? O embate entre o homem velho e o homem novo, a dor das nossas decisões, a renúncia dos instintos e o peso da retidão. Quando evitamos não dói, passa rápido, mas claro, não crescemos.
Não surpreende, portanto, que a infelicidade que fingimos exorcizar retorne de maneira fulminante no campo das relações sociais e afetivas: recurso ao irracional, culto das pequenas diferenças, valorização do vazio e da estupidez, etc. A violência da calmaria, às vezes, é mais terrível do que a travessia da tempestade.
Nesse sentido, a psicoterapia está violentamente contra esta onda. Ela não se entrega a covardia da rapidez, do pronto atendimento psíquico, e da substituição do sofrimento por um alívio sazonal. Não se acaba com o sofrimento fugindo dele, mas enfrentando-o, aliás, não se acaba com o sofrimento, nós aprendemos a sofrer com dignidade, afinal, somos verdadeiramente humanos.
A psicoterapia ainda está na era do confronto, quem a escolhe geralmente se sente fraco, afinal, é o sofrimento o grande motivador, mas essa escolha representa muita força, porque é também na psicoterapia que lutamos contra nossas limitações, encaramos nossos fantasmas, o tempo não é inimigo, mas amigo de quem quer crescer e aprender a viver.
Texto alentador
Bom. Excelente.