LAVAR OS PÉS UNS DOS OUTROS
Na vida costumamos mais pedir que agradecer. Temos igualmente a mania de fixar o olhar apenas nos defeitos dos outros e esquecer as qualidades. A liturgia de hoje nos sugere outras atitudes. A gratuidade é uma delas.
Pode até parecer estranho falar de gratuidade quando é comum dizer: “Tudo tem seu preço”. A lição do lava-pés, ao contrário, ensina-nos a agir desinteressadamente. Com esse gesto, Jesus revoluciona a ordem vigente: o servo ou o discípulo é que tinham a obrigação de lavar os pés do senhor e do mestre. De fato, a lógica do reino de Deus não se iguala à lógica dos poderosos do mundo. Por isso, talvez, seja tão difícil compreender e, mais ainda, viver a mensagem de Cristo.
É difícil, mas não impossível. Nós a vivenciamos com frequência. Ela tem que ver com pequenas ações cotidianas que, de tão gratuitas, nem percebemos, como um bom-dia, um sorriso, um abraço, uma atitude de escuta, um silêncio diante de situação em que a palavra é dispensável, por exemplo na doença, na dor, na morte. A gratuidade não espera nada em troca. Daí sua grandeza.
E, por incrível que pareça, são pequenos gestos assim que marcam nossa existência. Se prestarmos atenção nos comentários emitidos quando uma pessoa morre, veremos que geralmente relatam gestos desse tipo.
Os grandes feitos entram nos discursos formais, não nas conversas nascidas do coração: “Um dia ele fez aquele chá para nós”; “Ela nos recebeu muito bem, preparou uma comida tão deliciosa”; “Estava sempre disposto a ajudar”; “Era uma pessoa de bom coração”. E assim teríamos outras tantas falas.
Nesse sentido, meditar sobre o lava-pés é pensar em nossos gestos eucarísticos. Hoje é o dia da eucaristia: ação de graças, ato de profundo agradecimento, de pura e permanente gratidão. O ato da comunhão eucarística ultrapassa as paredes da igreja, da casa, do espaço sagrado. Não há uma eucaristia na igreja e outra na vida social. Ela é um contínuo na vida. É a lição por excelência de gratuidade que antecipa a alegria do reino.
Quem aprende essa lição não se conforma a um mundo ganancioso, violento e prepotente. Lavar os pés uns dos outros é viver nossa vocação para a partilha do pão da vida, da mesa, da beleza, do amor. Tudo é graça de Deus.
Pe. Antonio Iraildo Alves de Brito, ssp
O objetivo deste periódico é celebrar a presença de Deus na caminhada do povo e servir às comunidades eclesiais na preparação e realização da Liturgia da Palavra. Ele contém as leituras litúrgicas de cada domingo, proposta de reflexão, cantos do Hinário litúrgico da CNBB e um artigo que trata da liturgia do dia ou de algum acontecimento eclesial.
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