“Quando entrar setembro...” | Paulus Editora

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Família

08/09/2015

“Quando entrar setembro…”

Por Suzana Coutinho

As mudanças de estação eram motivos de festas em muitas culturas. Na primavera, comemorava-se o ressurgir da vida, as possibilidades de lançar as sementes com a esperança de que produzissem muitos frutos. Com o avanço de uma cultura que separou o ser humano da natureza, o que se vê é a degradação da vida no planeta. Alerta o papa Francisco, na encíclica Laudato Si (LS), que a fé traz novas “exigências perante o mundo de que fazemos parte” (LS, 17).

A família cristã vive neste mundo, degradado de diversas formas, com o risco da destruição não só de vegetais e animais, como, por consequência, da própria existência humana.

As mudanças climáticas, a falta de água, a má qualidade do ar são algumas das consequências de um estilo de vida que precisa ser revisto. A lógica do mercado, colocando o dinheiro no lugar da vida, tudo destrói com o pretexto de gerar lucro e desenvolvimento. Um “modo desordenado de conceber a vida e a ação do ser humano, que contradiz a realidade até ao ponto de arruiná-la” (LS, 101).

A família participa desta realidade e pode escolher fechar-se ou abrir-se para contemplar a beleza da criação e, junto com Francisco de Assis, proclamar e viver a grande fraternidade cósmica. Trata-se de responder ao “urgente desafio de proteger a nossa casa comum”, o que “inclui a preocupação de unir toda a família humana na busca de um desenvolvimento sustentável e integral” (LS, 13), acreditando nas mudanças possíveis e necessárias.

A terra e tudo o que nela há é criação divina. E como filhos e filhas de Deus, somos chamados a reconhecer que os outros seres vivos têm um valor próprio diante do Criador, respeitando a criação (LS, 69).

A família cristã deve, portanto, ser colaboradora na obra de Deus, cuidando do “seu jardim”.

E pode fazer isso de diversas formas, mas uma, em especial, nos parece lhe ser própria: a de educar para um outro estilo de vida, que dê a “consciência de uma origem comum, de uma recíproca pertença e de um futuro partilhado por todos” (LS, 202). Isso exige mudar a forma de produzir e de consumir, respeitando-se os limites da natureza, buscando a sustentabilidade, lutando pela justiça e paz e celebrando a vida.

A espiritualidade cristã propõe uma forma alternativa de entender a qualidade de vida, tornando-a profética e contemplativa, “capaz de gerar profunda alegria sem estar obcecado pelo consumo” (LS, 222). Isso se faz com uma humildade sadia, numa atitude de gratidão a Deus pelo que temos, e na solidariedade com os mais necessitados.

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