No artigo anterior, vimos alguns elementos importantes das “Cartas Pastorais” e da figura de Timóteo. As três “Cartas Pastorais” formam um conjunto homogêneo, tanto no plano literário como no doutrinal. São cartas endereçadas às pessoas – Timóteo e Tito – e contêm normas relativas aos líderes de comunidades. Há consenso que essas cartas foram escritas por algum discípulo de Paulo pelos inícios do 2º século da era cristã. Utilizando-se da “pseudonímia”, muito comum naquela época, o autor usa outro nome para dar mais valor à obra. Pode ser também que o autor se utilizou de alguns fragmentos do apóstolo para elaborar as cartas.

Essas Cartas Pastorais versam sobre a organização e direção das comunidades que o apóstolo confiou aos seus dois maiores discípulos: Timóteo e Tito. Trazem uma preocupação com a “fidelidade à sã doutrina”. Fazem um alerta contra os “falsos doutores”, que podem desviar os membros das comunidades. Há uma clara “hierarquia” dentro das comunidades, coisas que no tempo de Paulo não existia. Além disso, há uma “desvalorização” das mulheres. Ao passo que nas cartas autênticas, Paulo valoriza muito as mulheres

A Segunda Carta a Timóteo é como que um “testamento espiritual” de Paulo. O autor se apresenta como se fosse Paulo. Na Segunda Carta a Timóteo, a exortação se torna mais pessoal. Paulo oferece seu exemplo de conduta. Há uma exortação para o cuidado com os falsos ensinamentos divulgados pelos membros das comunidades. Timóteo recebe muitas orientações e recomendações.

Provavelmente foi redigida em Roma durante o primeiro cativeiro (1,17). Possível estruturação da Segunda Carta a Timóteo

1. Exortações a Timóteo (2Tm 1,1-18): Após uma breve saudação do autor a Timóteo, a Carta apresenta um agradecimento a Deus pela fé de Timóteo e lembra um belo exemplo de transmissão da fé numa família. Timóteo é convidado a “reacender o dom de Deus” que há nele. Por causa do evangelho, Paulo sofre a perseguição e é encarcerado, sentindo-se abandonado.

2. Vários ensinamentos (2Tm 2,1-26): a) Como bom soldado (2,1-13): Timóteo é convidado a transmitir o testemunho de Paulo. A seguir o autor apresenta três exemplos de conduta: bom soldado de Cristo, o atleta vencedor e o agricultor que se beneficia dos resultados. Mesmo que o pregador esteja preso, a palavra de Deus não pode ser acorrentada. O hino batismal enfatiza a participação do cristão no destino de Cristo. b) Exemplo de servidor (2,14-26): Em todo dirigente deve haver retidão, respeito, acolhimento, firmeza na perseguição, seriedade na palavra e fuga de conversas ociosas. Ele deve ser defensor da justiça, da fé, do amor e da paz.

3. Falsos doutores (2Tm 3,1-4,5): a) A questão dos últimos dias (3,1-9): Os falsos messias se multiplicam, desviando as pessoas com doutrinas perversas. São pessoas amantes de si, do dinheiro e do prazer. James e Jambres foram os chefes dos magos que se opuseram a Moisés na presença do faraó. b) A autoridade da Escritura (3,10-17): Timóteo é apresentado com uma lista positiva de atitudes de apoio a Paulo. Quem comunica o evangelho está sujeito à perseguição. Timóteo é convidado a permanecer fiel à palavra de Deus contida na Sagrada Escritura: nela se encontra o alimento da fé e a força para o testemunho. c) Instruções para os últimos dias (4,1-5): A missão de todo apóstolo e pregador é anunciar o evangelho, insistindo em tempo oportuno e inoportuno, encorajando com toda paciência e doutrina, a fim de que as pessoas deixem a idolatria e sirvam ao único Deus vivo.

4. Situação do apóstolo e despedida (2Tm 4,6-22): a) Recomendações e saudações (4,6-18): Paulo, prisioneiro por causa da palavra, reconhece que seu fim está próximo. Fazendo um balanço da sua vida, reconhece que combateu o bom combate e agora aguarda a coroa de justiça. Muitos que estiveram ao seu lado o abandonaram no fim trágico de sua vida. Mas reconhece que o Senhor Deus sempre esteve ao seu lado, dando-lhe força e não será neste momento que o abandonará. b) Palavras finais do autor (4,19-22): Conclui lembrando e saudando os que estiveram ao seu lado, dando-lhe acolhida e auxiliando-o na missão. É grato a todos por aquilo que fizeram por ele.

Nilo Luza nasceu em 1947, no Estado do Rio Grande do Sul. Ele é religioso da Congregação dos Padres e Irmãos Paulinos. É graduado em Filosofia e Teologia. Desenvolve sua missão paulina na redação do Semanário Litúrgico Catequético O Domingo e de Liturgia Diária.

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