No artigo anterior, vimos alguns elementos importantes das Cartas Pastorais e da figura de Timóteo. As três Cartas Pastorais formam um conjunto homogêneo, tanto no plano literário como no doutrinal. São cartas endereçadas às pessoas e contêm normas relativas aos líderes das comunidades. Os recentes estudos propõem que essas cartas tenham sido escritas pelos inícios do segundo século depois de Cristo, por algum discípulo de Paulo que interpretou o pensamento paulino, aplicando-o a uma situação posterior.
Um dos motivos das Cartas Pastorais é para preservar as comunidades da perseguição que sofriam e da tentativa do império impor sua ideologia. Além disso, elas defendem a missão interna diante das ameaças das doutrinas divergentes defendidas por grupos dissidentes das comunidades, provocando divisões. Nesta época das Cartas Pastorais, mais do que fundar comunidades, se busca encorajá-las. Surgem a necessidade de novos ministérios de coordenação. As Cartas Pastorais incentivam o zelo na organização das comunidades e definem algumas funções das comunidades, tais como diáconos, presbíteros e epíscopos.
Tito é filho de gregos e se encontra na ilha de Creta, para organizar a comunidade. Provavelmente convertido por Paulo, que o chama de filho. Tito foi grande colaborador de Paulo em sua missão e em suas viagens. Tito, assim como Timóteo, torna-se a figura da presença do apóstolo na sua ausência após a morte. Ele tem a missão de ensinar o que aprendeu de Paulo.
Acompanhou Paulo e Barnabé a Jerusalém para a assembleia, conhecida também como “concílio de Jerusalém”. Organizou a coleta em favor da comunidade de Jerusalém. Paulo o encarregou a coordenar a comunidade de Creta. Foi também enviado para evangelizar a Dalmácia.
Tito é a terceira casta das chamadas de Pastorais. A Carta a Tito retrata uma comunidade já bem estruturada e organizada. A comunidade se preocupa com a organização dos ministérios, segundo o modelo da família patriarcal e a instituição das autoridades romanas. Tito foi envidado para reconciliar a comunidade de Corinto com o apóstolo Paulo.
A Carta a Tito tem muita semelhança com a primeira Carta a Timóteo, as duas tratam de problemas parecidos. O centro da carta é a “sã doutrina”, ou seja, a vontade salvadora de Deus e a salvação gratuita trazida por Cristo. A missão de Tito é instruir presbíteros para exortarem a “sã doutrina” e refutar todos os que a contradizem. Podemos estruturar a carta da seguinte maneira:
1. Saudação inicial (Tt 1,1-4): Depois de se apresentar como servo de Deus e apóstolo de Jesus Cristo, Paulo lembra que a tarefa do apóstolo é anunciar às pessoas o projeto de Deus, que quer conduzi-las à vida eterna.
2. Responsabilidade dos dirigentes da comunidade (Tt 1,5-2,10): Paulo deixa Tito em Creta para organizar a comunidade, para nomear presbíteros e epíscopos, que sejam irrepreensíveis, hospitaleiros e não arrogantes e fofoqueiros. Procure encorajar para a “sã doutrina” e repreender os grupos que são perniciosos para a comunidade. Com certa mentalidade patriarcal romana, Paulo pede a Tito a dar uns conselhos aos anciãos, às mulheres idosas, aos jovens e aos servos para que todos procurem realizar boas obras.
3. Como viver aguardando a esperança (Tt 2,11-3,15): A manifestação de Deus muda o modo de compreender e viver a vida. O cristão passa a viver voltado para a manifestação gloriosa de Jesus. Após lembrar a submissão às autoridades, Paulo relembra sua própria conversão, que mudou profundamente seu modo de viver. Ter fé significa produzir boas obras. O autor conclui a Carta recomendando o apoio da comunidade aos missionários itinerantes. Cita alguns: Ártemis, Tíquico, Zenas, Apolo…