500 anos da Reforma Protestante reúne católicos e protestantes em evento na FAPCOM | Paulus Editora

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01/09/2017

500 anos da Reforma Protestante reúne católicos e protestantes em evento na FAPCOM

Por Imprensa

Reconciliação, união e diálogo vêm sendo termos usados com frequência durante esses quatro anos de pontificado de Francisco. Desde que assumiu a difícil missão de guiar a Igreja de Cristo, o pontífice não tem medido esforços para mostrar aos cristãos e ao mundo que Deus é misericordioso e que devemos procurar nos reconciliar com Ele. Mas para viver em comunhão com Deus é necessário nos reconciliar com nossos irmãos.

Encontro entre Papa Francisco e o Patriarca Kirill, da Igreja Russa Ortodoxa. Foto: Adalberto Roque/Reuters

Até agora, o pontificado de Francisco foi marcado por momentos históricos, em que ele buscou o diálogo com outras religiões e, acima de tudo, com católicos ortodoxos e os irmãos separados pela Reforma Protestante. Em 2016, durante viagem apostólica ao México, Francisco esteve em Cuba para um encontro com o patriarca russo Kirill, da Igreja Russa Ortodoxa. O encontro entre os lideres religiosos não acontecia desde o Cisma de 1054. Um ano antes, o pontífice já havia visitado Cuba para participar do processo de reaproximação do país com os Estados Unidos.

No final de outubro de 2016, Papa Francisco foi responsável por mais um momento histórico. No dia 31 daquele mês, tiveram início as comemorações pelos 500 anos da Reforma Protestante. O Bispo de Roma aceitou o convite feito pela Federação Luterana Mundial e viajou à Suécia para se tornar o primeiro papa a participar das comemorações luteranas. No mesmo ano, completaram-se cinco décadas de diálogo entre católicos e luteranos – um diálogo que começou logo após o Concílio Vaticano II.

Papa Francisco em visita a Suécia para a comemoração dos 500 anos da reforma protestante. Foto: MICHAEL CAMPANELLA/GETTY

Para celebrar os 500 anos da reforma feita por Martinho Lutero, a Casa da Reconciliação – instituição fundada pelos Frades Franciscanos da Reconciliação na década de 1980, na capital paulista, e gerida pela Arquidiocese de São Paulo – realizou na última quarta-feira (30), o evento “500 anos da Reforma Protestante”. Cerca de 130 pessoas de diversas igrejas cristãs estiveram na Faculdade PAULUS de Comunicação, onde foi realizado o encontro.

Após a abertura do evento, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, bispo da Arquidiocese de São Paulo e Grão-Chanceler da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, falou um pouco sobre os conflitos que se sucederam após a reforma. O cardeal ainda afirmou que o diálogo e a busca pelo caminho ecumênico têm o objetivo de reconstruir a unidade pedida por Jesus Cristo: que todos sejam um. Dom Odilo ressaltou que o caminho para essa unidade é penoso e longo, mas que o Espírito Santo vai conduzi-la e promovê-la da melhor forma possível.

Com o tema “Contextualizando a Reforma”, o Pe. Dr. José Oscar Beozzo, coordenador geral do CESEEP (Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular), em São Paulo, e o Pastor Doutor Lauri Emílio Wirth, professor no Programa de pós-graduação em Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo e membro do Centro de Estudos da História da Igreja na América Latina (CEHILA) e da Associação Brasileira de História das Religiões (ABHR), buscaram apontar os dois lados da história e mostrar que o bem maior das igrejas é sua missão de evangelizar e testemunhar Jesus Cristo perante o mundo, de modo a unir os cristãos.

Para Leonardo Lopes, seminarista da Diocese de Jundiaí, todo o contexto que foi apresentado tem grande valor para o que as pessoas vivem hoje. “Esse diálogo é muito importante para a sociedade e para o Cristianismo, para as igrejas. Logicamente vemos a seriedade de igrejas protestantes como a luterana e a metodista; vemos dentro do catolicismo o que isso representa”, afirma ele.

Em entrevista concedida à PAULUS Editora, Cardeal Dom Odilo apontou as repercussões da reforma no mundo e dentro da Igreja Católica. “A reforma teve grande influência cultural na época. Na Alemanha, por exemplo, houve a tradução da Bíblia, o que contribuiu para a difusão e consolidação de uma língua comum. Por outro lado, ela estimulou na Igreja uma reforma católica, através do Concílio de Trento (1542), e isso naturalmente foi motivado, de certa forma, pela reforma protestante. Evidentemente, as consequências da reforma foram positivas, pois ela estimulou uma renovação na vida da Igreja e na evangelização, bem como o surgimento de tantas iniciativas novas na Igreja Católica”, reitera o cardeal.

Dom Odilo ainda ressaltou que os católicos devem encarar a história com realismo. Segundo ele, a reforma foi traumática; ela não aconteceu num diálogo ameno ao redor de uma mesa, mas, sim, com conflitos. “(A reforma) dividiu a Igreja, isso não pode ser negado; mas nós não podemos simplesmente ficar olhando para o conflito. Nós precisamos passar do conflito para a comunhão, para o diálogo, para a revisão de posições e posturas”.

O bispo finaliza dizendo que é preciso olhar para a frente e buscar o diálogo teológico para chegar ao diálogo doutrinal. “Algumas coisas já aconteceram, como o documento comum que se fez entre a Igreja Católica e a Igreja Luterana na Alemanha. Portanto, hoje não estamos mais nos combatendo, o que é um grande passo. Estamos nos respeitando, convivendo serenamente, até rezando juntos, mas ainda não celebramos a Eucaristia em unidade. Não estamos na mesma igreja e a meta é esta. Quando deve acontecer? Só Deus sabe, mas devemos trabalhar para caminhar juntos nessa direção”, conclui ele.

Durante o encontro ecumênico, os participantes puderam participar de diversas oficinas. Os temas propostos buscaram aplicar o conhecimento sobre questões importantes que circundam a reforma protestante. Foram convidados pastores e padres de diversas igrejas para ministrar as palestras “Reforma e ecumenismo”, “Ética social e reformas”, “A economia na perspectiva dos reformadores”, “Reformas e modernidade”, “As reformas e a educação”, “A reforma e a Bíblia”, “As mulheres e a reforma”, “Divergências e convergências entre protestantes e católicos”, “Eixos teológicos centrais das reformas” e “Por uma reforma da espiritualidade: o justo e a sua fé”.

A Revda. Carmem Kawano, presbítera da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, coordenadora do Instituto Anglicano de Estudos Teológicos e membro da CONAC, MOFIC e Diálogo Bilateral Anglicano-Luterano, conduziu o workshop “Mulheres e as reformas”, em que buscou resgatar as mulheres na história da Igreja no período em que aconteceram as reformas. “Eu acredito que a razão fundamental de trazer as mulheres para o debate é mostrar a importância que elas tiveram para o movimento da reforma e, a partir daí, estudar qual a relevância da mulher na Igreja”, aponta ela. A presbítera crê que sem as mulheres as reformas talvez não tivessem tanta abrangência e que elas têm hoje o papel de continuar reformando a Igreja.

Historicamente, a reforma iniciada por Lutero teve um papel fundamental na mudança da mentalidade do homem moderno. Para discutir a importância desse movimento reformador para o mundo ocidental, foi convidado o Revdo. Valdinei A. Ferreira, doutor em Sociologia pela USP e pastor titular da Primeira Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo. “O objetivo da palestra era, num primeiro momento, mostrar como os reformadores colaboraram com a modernidade sem que soubessem que estavam fazendo isso, uma vez que a motivação deles era religiosa”, conta ele. Durante o curso, Valdinei procurou mostrar um pouco da relação entre modernidade e reforma no Brasil, apontando como os missionários protestantes atuaram na divulgação da mensagem da reforma no país.

Ao final das palestras, os participantes se reuniram novamente no Auditório Tiago Alberione para o encerramento do evento. Após os agradecimentos e a realização de uma oração ecumênica, os padres e pastores presentes se juntaram para conceder uma benção.