O livro do profeta Oseias abre a coleção dos chamados “Profetas Menores”. O nome Oseias significa “salvação” ou “Deus salva”. Era casado com Gomer com a qual teve três filhos (1,2-9). Ela o teria abandonado e depois voltado novamente para ele. Conhecido como profeta do amor divino, Oseias revela que esse amor sempre está disposto a reconquistar a pessoa amada. O profeta apresenta a relação entre Deus, fiel e cheio de amor, e seu povo nem sempre fiel. Ele descreve as ralações entre Deus e Israel nos termos de um matrimônio. Contemporâneo de Amós, viveu e atuou no Reino do Norte (Israel), entre os anos 750-725 a.C., nos últimos anos do reinado de Jeroboão II (783-743 a.C.), último grande rei do Reino do Norte (Israel), e durante os turbulentos anos que precederam a queda da Samaria (722 a.C.).
Oseias é provavelmente dirigente de uma comunidade profética levita, no interior de Israel, onde se vive longe dos grandes problemas urbanos. Tudo indica que teve boa formação cultural e pertencido a uma classe mais elevada. Ele denuncia o pecado de idolatria, chamada prostituição. Sua crítica é principalmente contra os dirigentes da sociedade: os reis (opressores) e os sacerdotes (cobiçosos). Além da denúncia, o profeta anuncia o amor fiel e misericordioso de Deus para com seu povo. A aliança entre Deus e seu povo foi rompida, por causa da infidelidade do povo. Segundo o profeta, a religião pode legitimar a corrupção e a injustiça.
É uma época de muita prosperidade econômica ao lado de miséria e decadência religiosa. No fim do reinado de Jeroboão II, a Assíria se torna ameaça para Israel. Israel, para se salvar, faz aliança com a Síria. Unidos Israel e Síria fazem guerra contra Judá. Por sua vez, Judá se une à Assíria e dominam a Síria, e Israel cai nas mãos da Assíria, que toma a Samaria (722 a.C.). Assim o Reino do Norte (Israel) praticamente desaparece da história. Podemos dividir o livro do profeta Oseias em três partes:
Primeira (1-3): A experiência matrimonial do profeta. Os estudiosos discutem se o casamento de Oseias com Gomer seria uma ficção literária ou um fato histórico. Para alguns a segunda proposta seria a mais viável, pois Oseias lê o próprio drama como reflexo da relação entre Deus e Israel. Para outros, seria uma ficção literária, uma criação do autor. A narrativa tem o objetivo de representar a relação entre Deus e seu povo. A imagem do casamento pode ser vista como simbolismo do casamento de Deus com o povo infiel. A vida recomeçada de Oseias com Gomer seria a restauração do relacionamento entre Deus e o povo fiel.
Segunda (4-11): Acusações e castigos de Israel. Nesta parte, temos os últimos anos do reinado de Jeroboão II (786-746 a.C.). É uma série de exortações e meditações sobre a história de Israel com o objetivo específico: levar o povo e os responsáveis a uma verdadeira conversão. São oráculos de ameaça e denúncia: contra os sacerdotes, o povo e seus líderes; as denúncias continuam, mas há um apelo à conversão; denúncia de corrupção da política injusta; como castigo, Israel será punido com o exílio; por fim, mostra as fraquezas de Israel e retoma a história da salvação.
Terceira (12-14): Os erros e a restauração de Israel. A exemplo de Jacó que mentiu ao pai para conseguir a progenitura. Efraim se utiliza de mentira e falsidade para se enriquecer. Essa reflexão sobre a vida de Jacó deveria levar Israel à conversão e colocar a esperança no Deus de Israel e não nos deuses dos povos. O profeta critica Israel (Efraim) por ter trocado o Deus do êxodo por um sistema político que gera escravidão e morte. Deus sempre oferece nova chance de salvação, mas a situação é muito grave que não há mais esperança, pois o Reino do Norte será tomado pela Assíria. Faz uma severa crítica contra as alianças com os povos vizinhos. Por fim, conclui com uma liturgia penitencial com a promessa de perdão, se houver conversão, e de vida nova. O epílogo propõe seguir os caminhos de Deus, que significa obedecer aos mandamentos, que propõem docilidade, confiança, justiça e retidão.