Gênero – Para além das ideias

Autores: Anne Caroline S. da Costa,, Geisa Paula Ribeiro, Marcos Manoel da Silva, Maria do S. S. Ferreira

Os ideais feministas se desenvolveram no decorrer dos séculos até serem amplamente sinalizados como movimento de vanguarda pelo direito da mulher à igualdade de gênero. De Simone de Beauvoir até os dias atuais, tantas outras pessoas, pensamentos e olhares futuristas esparramaram sonhos, lutas e renovaram a história em favor da dignidade para todos. O tema “gênero” vem incorporando conceitos, entendimento social e pautas diversas engendradas como sinônimo de construção social do papel da mulher. Na semântica, feminismo ganha uma nova concepção: antimachismo. Um misto de suspiro e reconhecimento, mas não de estagnação. Nessa caminhada desafiadora, a população brasileira tem aprendido a focalizar dimensões humanas comunitárias, a valorizar suas raízes e a se dispor para compreender as diferenças. 

O antimachismo representa um salto nessa discussão, sendo exercido pelo direito igualitário ao voto, ao divórcio, à autonomia, à valoração no mundo corporativo, ao pleito político e mais tantas possibilidades que o tempo reserva à mulher e à diversidade de gêneros presentes na história. Nessa jornada de desconstrução de estruturas centenárias se inserem os sujeitos, os ativistas, as humanidades, sejam por vozes pretas, coloridas ou brancas. 

O termo “gênero” aqui é alimentado pelo diferente, pelos direitos iguais para todos, pela dignidade em ser o que se é. O enfrentamento acelerou e não há mais espaço para comportamentos escondidos. A proposta de discussão sobre o tema traz para o diálogo as diferentes perspectivas epistemológicas e o modo como nelas se inserem as experiências dos sujeitos e as políticas públicas sociais para a construção de representatividade, com foco nas diferentes identidades, nas relações de parentalidade e no gerenciamento da ambiência familiar.

A FORMAÇÃO

Se o desafio significou plantar novos softwares no pensamento dos sujeitos em relação ao tema, a dinâmica teve a pretensão de ir ao encontro desse entendimento sobre relações e identidade de gênero, ampliando o conhecimento digerido nas trocas de experiências entre diversos participantes de diferentes regiões, sob o gerenciamento do Programa Direito e Cidadania (PDEC) 2020. As pautas trabalhadas na formação foram além da transmissão de conteúdos e geraram um ativismo – motivado pela vontade de mudança dos participantes – que resultou na elaboração do jogo de cartas “Desembaralhando Gênero”, uma síntese de teorias e pesquisa de campo. A transversalidade dos conteúdos objetivou a formação humana sobre questões relevantes ao percurso de vida do indivíduo, a fim de construir novos conhecimentos e promover atitudes que reverberam nas ações cotidianas. 

O que muda na discussão de gênero pelo fato de estarmos vivendo em uma pandemia? 

Essa foi, sem dúvida, uma das perguntas que mais motivaram a elaboração do circuito formativo com a temática “Gênero”, pois, logo nos primeiros meses de isolamento social, pesquisas já apontavam que o fato de as mulheres estarem em casa levou ao aumento dos casos de violência doméstica por todo país. O cenário, que já era complicado, só se agravou com a pandemia e, nesse sentido, pensar essa temática se fez fundamental para proporcionar um espaço de debate e reflexão. 

Dados divulgados pelo canal Ligue 180, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, relatam que no mês de abril o aumento de casos de violência doméstica foi de 37,6% em comparação ao mesmo período de 2019. O estudo “Violência doméstica durante a pandemia de Covid-19”, realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), demonstra que, além do feminicídio no país ter crescido 22,2% nos meses de março e abril deste ano, a pandemia ainda resultou em menos registros de ocorrências de crimes dessa natureza nas delegacias de todo o país, reduzindo, portanto, a concessão de medidas protetivas de urgência para evitar o contato das mulheres com os agressores. 

Reunimos profissionais que atuam na Política de Assistência Social como educadores sociais, supervisores, técnicos, assistentes sociais e psicólogos de diferentes lugares do país. A diversidade e a pluralidade do grupo possibilitaram um debate transversal, que nos permitiu entrar em contato com a realidade e as particularidades do impacto da pandemia na discussão de gênero em todo o país, gerando um ambiente germinativo de troca de ideias e ampliando o escopo de atuação e reflexão de questões essenciais para uma dinâmica de convivência cada vez mais fortalecida.

O processo formativo aconteceu em duas fases, sendo a primeira em três ciclos de formação sobre os assuntos: “A historicidade da construção social de gênero e a violência contra mulher: a construção histórica das relações de gênero”; “Políticas de proteção para a mulher: a violência doméstica na pandemia”; “Identidade de gênero e as contribuições da Assistência Social no acesso à informação e na garantia de direitos”; “Gerenciamento do lar e a parentalidade contemporânea: as relações entre gêneros e seus desdobramentos na contemporaneidade” e “Papel do homem na questão de gênero”. Já na segunda etapa, a formação se voltou para a elaboração de uma ferramenta capaz de difundir de forma didática os resultados dos debates.

O JOGO “DESEMBARALHANDO GÊNERO”

O jogo propõe interatividade, diálogo e troca de experiências entre gerações em defesa de uma cultura igualitária, democrática e não reprodutora de estereótipos de gênero, raça e orientação sexual, contribuindo para que os jogadores percebam as dinâmicas sociais e discutam, à luz dos Direitos Humanos, as contribuições das proposições afirmativas e do comprometimento com a construção social democrática, livre e cidadã. 

A finalidade do jogo é promover o conhecimento sobre gênero, por meio de informações organizadas nas seguintes categorias: “Você sabia?”; “Cultura popular”; “O que você faria?”, “Quem inventou?”; “Uma verdade e duas mentiras”, dimensionadas em três eixos: criança, adolescente e família. Os conteúdos dos conjuntos de cartas são divididos por faixa etária e se referem a elementos históricos da sociedade brasileira, como a Lei Maria da Penha e personalidades femininas revolucionárias, e questões sobre identidade de gênero. Os conteúdos provocam reflexões, debates, diálogos e possibilidades de desdobramento em espaços de convivência coletiva. 

A metodologia não busca esgotar o tema, mas sim gerar provocações para os operadores da Assistência Social, da Educação e dos demais segmentos, engajados em discussões construídas coletivamente, que incentivem as relações de poder horizontais, dialógicas e progressistas. A participação, a socialização da palavra e a vivência de situações concretas promovem desafios e responsabilidade no trato do tema, a partir da leitura crítica sobre acontecimentos e fatos da história.

Tema: Gênero Participantes: 116 

Municípios: 30 

Instituições públicas e privadas: 65 

Encontros virtuais entre agosto e novembro de 2020: 10 

Principal resultado: jogo “Desembaralhando Gênero”

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