A Assistência Social: Teoria e prática – A importância da reflexão científica aliada a propostas e soluções

Por redação

A pós-graduação em Gestão e Serviços do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), ofertada pela FAPCOM (Faculdade PAULUS de Tecnologia e Comunicação) desde 2016, segue sua trajetória de qualidade ascendente com o início da sua quarta turma no segundo semestre de 2021. Nestes cinco anos de existência, o curso Lato Sensu já formou 118 trabalhadores do SUAS e produziu 32 artigos que se debruçaram sobre os desafios cotidianos da execução da Política Nacional de Assistência Social (PNAS). Parte do corpo docente fala um pouco sobre os objetivos da pós-graduação: 

A professora Samara Xavier – mestra em Serviço Social pela PUC –SP -fala sobre o papel social deste curso de especialização focado na gestão do SUAS. “A política nacional de assistência social demanda atrelar a teoria à prática. Isso significa que vamos olhar para o cotidiano a partir da lente da teoria, de análises conceituais que ajudem a explicar e a compreender a realidade vivida, a realidade vigente. Não existe teoria sem prática e não existe prática sem teoria, e ter isso como base é uma das magias dessa pós-graduação da PAULUS. Eu luto contra uma ideia de dicotomia entre a teoria e a prática, aquela fatídica frase ‘uma coisa é a teoria, outra coisa é a prática’. Isso é uma inverdade, porque não existe uma dicotomia entre teoria e prática. Só existe teoria porque há pessoas analisando a realidade e quando eu paro para analisar a realidade eu quero qualificar, melhorar, potencializar e desbravar novos caminhos na minha prática profissional. Uma pós-graduação que qualifique trabalhadores do SUAS rompe com essa dicotomia.” 

Fernanda Budag – doutora em Ciências da Comunicação pela ECA-USP, pós-doutora em Comunicação e Práticas de Consumo pela ESPM-SP e atual coordenadora do programa de pós-graduação da FAPCOM – observa a importância do processo de especialização, do refinamento do saber e da atuação profissional. “Para além do status da titulação, a pessoa que cursa uma especialização em determinada área de interesse vai afunilando seu saber. Às vezes um interesse pessoal específico despertado no dia a dia, às vezes uma exigência que a atuação no mundo do trabalho vai te exigindo. Falando mais especificamente da pós-graduação em Gestão e Serviços do SUAS, o grande benefício para o aluno ao realizar esse curso é conquistar uma qualificada especialização numa área bastante específica, seja quem já atua ou quem pretende atuar na assistência. Principalmente se for alguém que não fez o curso de graduação em Serviço Social. Por exemplo, temos alunos que são psicólogos e que atuam junto ao SUAS, essa pessoa vai continuar usando a sua expertise da Psicologia. Vai continuar atuando como psicólogo, mas vai trabalhar particularmente junto ao sistema, seja qual for o cargo que ela ocupe na política de assistência social nos setores públicos ou privados, ela precisa conhecer as especificidades do SUAS. O curso vai ajudar ela nisso. E é aquela máxima: aquisição de conhecimentos nunca é demais, o que tu aprendeu é teu, ninguém te tira.” 

Marilene Aparecida Moreira Maciel, que concluiu a pós-graduação em 2019, concorda com essa relevância do acesso à informação especializada: “É de extrema importância para que se tenha o conhecimento aprofundado sobre o funcionamento da política de assistência social. Destaco um fator fundamental da pós que é a possibilidade de compreender sobre como funciona a gestão financeira e orçamentária do SUAS. Assunto extremamente importante e pouco discutido.” Rafael Vieira Pires do Nascimento concluiu a pós em 2021, complementa: “A pós preconiza o investimento no profissional do SUAS, passando a reconhecê-lo dentro de sua especificidade e investindo na formação profissional e consolidação de propostas que perpassam a assistência social atingindo o próprio cerne da declaração universal dos direitos humanos. Indubitavelmente é uma etapa de suma relevância para a assistência e um marco no que tange à valorização neste campo de atuação.” 

A elaboração de um processo formativo eficaz depende tanto da disposição de quem aprende quanto da experiência de quem ensina. Nesta relação, é igualmente importante que ambas as partes se observem como iguais no processo da construção do saber. Rafael compartilha um pouco da sua experiência com os professores. “Foi um privilégio conhecer o corpo docente desta pós. Afirmo sem pestanejar que são profissionais que não apenas dominam seus saberes, mas que são referências de atuação, símbolos de lutas e conquistas e que além de tudo se tornaram pessoas com quem posso contar como parceiros de atuação e rede. Concomitante a estes profissionais formidáveis, tínhamos os alunos de diversas origens e características. Foi renovador poder sentir o entusiasmo de uma turma que não esmaeceu durante o decorrer do curso, e sim se fortaleceu enquanto equipe e continua até hoje. Tenho extremo carinho ao descrever minhas experiências junto de todos, que hoje são referências em diversos segmentos da assistência social, em diversos campos de conhecimento, prontos para colaborarem com o que puderem.” 

Marilene concorda e acrescenta: “Tivemos professores e professoras incríveis durante todo o processo. As aulas eram planejadas e proporcionavam muitas trocas enriquecedoras. Para além da formação, o SUAS me encorajada a lutar com unhas e dentes para fazer valer o sistema de garantia de direitos, com muito senso crítico e engajamento político.” 

“Eu comecei a lecionar na terceira turma”, recorda Samara. “Quando eu paro para pensar na relação docente/ discente, eu tenho uma orientação freiriana, ou seja, a minha relação com os educandos é uma relação dialógica, horizontal e respeitosa, então sei que meu lugar nessa relação é de mediadora, é de provocadora, é de estimular, é de fazer refletir, é de construir essa reflexão junto com eles. Além de tudo, construir uma relação que não separe com autoridade o professor do aluno. Na minha posição de mediadora eu tenho a função de provocar a construção de uma consciência crítica. A sala de aula, como eu costumo dizer pros discentes, é um solo sagrado. É o lugar da construção, do conhecimento, do respeito, da alteridade, do cuidado e da solidariedade! Eu amo me relacionar com os discentes e amo perceber que a insistência em uma relação dialógica horizontal faz com que eu tenha amigos além de alunos, gente que se preocupa mesmo e se cuida, seguindo juntos e lutando por um mundo melhor.” 

“A FAPCOM tem muito forte na sua missão essa articulação entre a academia e a prática no mundo do trabalho”, destaca Fernanda Budag ao comentar sobre a composição do corpo docente: “Todos os cursos da instituição, bem como o curso de pós-graduação em Gestão do SUAS, precisam seguir e responder a essa premissa. Portanto, a gente procura ter um equilíbrio entre esses pilares: a academia e o mundo do trabalho. A gente sempre opta por professores mestres e doutores para responder a essa parte acadêmica, então, pessoas com uma consolidada produção de conteúdo na área. São professores também experientes em sala de aula, para manter essa excelência didática; docentes inseridos nessas discussões educacionais. Estamos sempre tentando avançar, melhorar, aprimorar, então esses professores têm essa preocupação. Claro, são também professores com experiência prática no âmbito da política pública de assistência social, com o conhecimento e reconhecimento advindos das suas ocupações enquanto gestores, diretores, consultores, e, portanto, atualizados em virtude dessa atuação ainda em exercício.” 

Rafael sinaliza como essa missão fornece uma experiência pedagógica qualificada, que combina uma boa base acadêmica com conhecimento prático, e influencia os alunos. “O impacto ocorre desde um acervo bibliográfico que subsidiou o enriquecimento teórico mesmo antes do início da pós, assim como durante o seu desenvolvimento. A retomada de marcos essenciais da assistência de uma perspectiva sociocultural, assim como a discussão sobre temas cotidianos, enriqueceu práticas de praxe, tornando-as mais elaboradas e planejadas, com objetivos mais claros e distintos. Nos tornamos mais ambiciosos também, pois sinto que passamos a almejar gradualmente mais e mais, conforme percebemos nossa potencialidade enquanto coletivo que vinha se formando ali. O arcabouço teórico endossou a interlocução entre a rede socioassistencial, na disseminação do que é o SUAS de forma intersetorial e sobre como devemos contar com o mesmo para que possamos gerar realidades mais justas e igualitárias.” 

“Eu posso dizer que a pós-graduação como um todo abre portas”, complementa Marilene, “pensando que estive ao lado de outros colegas com outras formações. É ótima essa possibilidade de você integrar vários saberes profissionais e de entender um pouco mais sobre a atuação profissional do meu colega. Uma questão que me facilitou muito foi a possibilidade de fazer uma análise de conjuntura, por exemplo. Eu acho que quando a gente tem uma atuação profissional pautada apenas pelo que é apresentado superficialmente temos uma atuação muito rasa. Então, o ganho que eu tive e o que impactou na minha vida profissional foi ter um olhar ampliado, capaz de realizar uma análise de conjuntura mais aprofundada. Essas reflexões que a gente teve no decorrer da pós-graduação me possibilitaram ter esse olhar sobre o que está acontecendo no nosso cotidiano não especificamente só na área em que eu atuo, mas no contexto geral.” 

Samara ressalta a qualidade dos trabalhos e artigos elaborados pelos concluintes da pós-graduação. “Pensar nos trabalhos de conclusão de curso dessa pós-graduação, para mim, é algo fundamental. Existe interpretação da realidade sem ciência, mas não existe interpretação da realidade ou busca por respostas para resolver problemas e dilemas sem a investigação científica. Ver trabalhadores sociais produzindo conhecimento e produzindo ciência é uma das coisas mais incríveis que um docente pode viver, pois é a construção da busca por respostas, da busca por análise e interpretação de uma sociedade e de uma política social que mantém essa sociedade em pé. É a manifestação daquilo que citei antes sobre romper com a dicotomia entre teoria e prática, olhando a teoria como uma importante base de investigação e de provocação. Nós tivemos trabalhos muito interessantes, todos muito bem avaliados, elogiados pelos professores avaliadores, o que me dá um orgulho profundo.” 

Olhando para o porvir, Fernanda sinaliza perspectivas para a turma mais recente. “Primeiro de uma maneira mais abstrata, consolidar o nome do curso, além do nome da FAPCOM dentro da área da política de assistência social sempre em diálogo com a PAULUS. Naturalmente, organicamente a gente vai se fortalecendo, mas não dá pra deixar esse fortalecimento somente nas mãos do acaso. Então nós estamos reformulando a matriz do curso que é um processo natural no andamento de qualquer curso, seja de graduação ou de pós-graduação. Vamos vendo possibilidades de melhor atuar conforme os feedbacks dos próprios alunos e dos professores. Estamos fazendo uma atualização para acompanhar as mudanças no próprio Sistema Único da Assistência Social, procurando contemplar essas mudanças legais também. Acho que essa reformulação da matriz é a principal questão em perspectiva para o futuro do curso. Junto disso vem também uma consolidação do formato e da abordagem do TCC. A consolidação do TCC ajudará os alunos a pensar de maneira aprofundada, embasada e crítica cada situação que desejarem estudar, visando sempre um amadurecimento nos programas, projetos e serviços na assistência social em andamento. Colocar em prática, pensar e analisar tudo isso que já existe, até conseguirem propor mudanças no cenário da vida concreta.” 

Por fim, Marilene sinaliza a gratidão com o processo formativo e as oportunidades concedidas. “Gostaria de reforçar a importância da oferta de bolsas de estudos. Eu, uma mulher negra (de pele clara) vim de uma família em que as alternativas de trabalho das mulheres eram o serviço doméstico. Praticamente todas mulheres da minha família tiveram ou têm experiência neste contexto. Para quem é da periferia, fazer um curso superior é muito difícil, pós-graduação então!? Mesmo atuando profissionalmente, é muito difícil conseguir arcar com todos os custos que uma pós-graduação exige. Sou muito grata pela oportunidade que recebi da FAPCOM/PAULUS, que possibilitou que mulheres como eu pudessem mergulhar ainda mais nos estudos e mudar o rumo da sua história. Desejo que cada vez mais este caminho seja percorrido por mais pessoas, principalmente com o foco voltado ao público entendido como minorias sociais. Que nós sabemos que de minoria não tem nada né! Somos muitos, somos diversos, somos abundantes.” 

Rafael também faz a sua avaliação da experiência “A pós em si, além de todos os apontamentos feitos até então, trouxe a possibilidade de nos fortalecermos enquanto um coletivo que luta pela efetivação dos direitos. Também sou agradecido por ter tido a possibilidade de crescer ao lado de pessoas que hoje são referências na minha vida, que posso contar diariamente, seja para buscarmos objetivos em comum, enfrentarmos turbulências como a pandemia da Covid-19 ou celebrarmos nossas conquistas juntos. Utilizo-me deste ínfimo gesto para agradecer a todos estes que tornaram nosso crescimento possível e que se tornaram grandes amigos. Para o grupo que formamos para o desenvolvimento do artigo, careço de palavras que retratem como foi épico este processo, que gerou e ainda gera momentos únicos que fazem a diferença. São lideranças que querem fazer acontecer e estaremos à disposição para tudo que pudermos construir juntos.”

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